(20201100-PT) Exame Informática 305

(NONE2021) #1
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O PONTO FRACO DO CANCRO


CELLMABS
PROJETO: GLICO-IMUNO-ONCOLOGIA
FINALIDADE: MEDICAMENTOS ONCOLÓGICOS
LOCAL: LISBOA, CEDOC

NUNO PREGO RAMOS

PAULA VIDEIRA

O objetivo não é modesto: curar o
cancro. E o caminho já está traçado:
explorar um ponto fraco, os açúcares
que estão à volta das células
tumorais, agarrados à membrana,
e que se tornam aberrantes. Por
serem exclusivos da anormalidade,
tornam-se num alvo ideal, abrindo
portas para tratamentos direcionados
e sem efeitos secundários. Estes
açúcares, ou glicanos, estão
presentes em quase todos os tipos
de cancro (em cerca de 80% dos
tumores sólidos), em particular nos
mais agressivos, como o do pâncreas,
e nos que resistem à quimioterapia.
Além desta assinatura própria, que
se torna muito conveniente, estas
moléculas têm dois efeitos que
contribuem muito para a progressão
da doença: reprimem o sistema
imunitário e contribuem para a
produção de fatores de crescimento
tumoral. Portanto, é de todo o
interesse aniquilar estas moléculas.
E é aí que a CellMabs quer chegar e
quer fazê-lo em Portugal. A startup,
que é uma spin-off da Universidade
Nova de Lisboa, fundada pelos
investigadores Nuno Prego Ramos e
Paula Videira, concentrou-se nesta
nova área, a Glico-Imuno-oncologia.
Algo como ativar a resposta do
sistema de defesa no combate ao
cancro, tendo os glicanos como alvo.
Se estes forem desativados, ao
mesmo tempo que a célula doente
é sinalizada, o sistema imunitário
torna-se mais eficaz a eliminar as


células doentes. “Todas as grandes
empresas da área estão a investir
nesta linha”, revela Nuno Prego
Ramos. A grande especialidade do
grupo português é o desenvolvimento
de anticorpos muito específicos,
que se ligam a estas moléculas
aberrantes e só a elas. “É um encaixe
muito difícil”, sublinha. Em 2019,
a CellmAbs recebeu da Portugal
Ventures, sociedade pública de
capital de risco, e da Hovione Capital,
um investimento total de 1,4 milhões
de euros, “o maior de sempre na
área da Oncologia”, sublinha Nuno
Prego Ramos. Estes anticorpos
desenvolvidos em Lisboa são depois
combinados com outras moléculas,
em quatro estratégias diferentes e
com recurso a entidades externas,
que permite ter “mais rapidez e maior
robustez nos resultados.” Os ensaios
clínicos já começaram a ser planeados
e, ao contrário da estratégia habitual
nas startups, que apostam na
venda a um gigante, a Cellmabs
quer chegar até à fase 2 dos testes
em pacientes. E como hoje-em-dia
todos os caminhos vão dar à Covid,
é possível que também cheguem
novidades nesta área. “O coronavírus
usa estes mesmos açúcares para se
evadir”, nota Nuno Prego Ramos. Com
apoio do financiamento especial da
Fundação para a Ciência e Tecnologia,
destinado ao combate à pandemia,
a empresa está agora a tentar
desenvolver anticorpos que ajudem a
eliminar a infeção.
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