(20201100-PT) Exame Informática 305

(NONE2021) #1
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/ TENDÊNCIAS

AS CAIXAS QUE FALAM


São capazes de enviar dados por Bluetooth
e permitem saber exatamente as condições
em que foram transportadas carnes, frutas e resinas.
Dão confiança ao consumidor e ganhos às empresas

Tex t o Rui da Rocha Ferreira Fotos José Carlos Carvalho

D


e dez em dez minutos, a
Stamply Box faz um registo
da temperatura e da humida-
de que existe no seu interior.
E, quase como se as caixas falassem, da
próxima vez que se aproximar com o
smartphone, desde que tenha o Blue-
tooth ligado, esses dados passam a estar
disponíveis também para a pessoa res-
ponsável pelo transporte ou para o cliente
final, através de uma app.
Por fora pode parecer uma caixa de
polipropileno expandido como tantas ou-
tras, mas além de integrar células de re-
frigeração na parte superior, que mantêm
as temperaturas abaixo dos 5º durante 18
horas, esconde um lado mais tecnológico.
No interior, existe um sistema cujo segre-
do, segundo Tiago Cunha Reis, diretor
executivo da Mater Dynamics, é um cir-
cuito integrado – tanto os nanossensores
como a antena de transmissão estão no
próprio circuito. Algumas moléculas do
circuito reagem, através de vibração, à
variação de temperatura, enquanto outras
reagem à variação de humidade. A antena
integrada interpreta depois a vibração das
moléculas e comunica esta informação no
protocolo de transmissão pretendido, que

neste caso é o Bluetooth. “As moléculas
são a voz e a antena o microfone”, explica
o CEO da Mater Dynamics.
Graças à sensorização existente na
caixa, é possível fazer o transporte de
produtos – os clientes da startup, criada
em 2015, já as usam para movimentar
carne, frutos silvestres, medicamentos e
até resinas especiais – sem a necessidade
de recorrer a uma carrinha refrigerada.
E isto é algo que faz uma grande dife-
rença nos custos envolvidos. Segundo
Tiago Cunha Reis, a Stamply Box chega
a permitir poupanças de várias centenas
de euros se considerarmos, por exemplo,
um transporte de longo curso. “Só o facto
de estar a usar uma carrinha conven-

cional comparado com uma carrinha
de frio, garante-me 30% de poupança,
em média”, sublinha.

MAIS TRANSPARÊNCIA
A Stamply Box acrescenta um elo a toda
a cadeia de logística no transporte de
produtos perecíveis: informação cons-
tante sobre o ambiente de conservação
dos alimentos, algo que pode ser usado
pelas empresas para efeitos de inspeção
alimentar ou para 'falar' com o clien-
te final. Tiago Cunha Reis revela que a
pandemia trouxe procura à Stamply
Box, pois, de um momento para o outro,
muitos produtores viram-se obrigados a
enviar os produtos diretamente para os
consumidores. Graças a uma interface de
programação de aplicações (API) que a
empresa tem disponível, é possível criar
uma app que permite ao cliente, no ato
de receber a caixa, saber exatamente as
condições de transporte daqueles produ-
tos. São estas possibilidades que têm feito
com que além de empresas portuguesas,
a Mater Dynamics já tenha clientes para
a caixa inteligente em Espanha, França,
Reino Unido, Bélgica e Argentina. E a
ideia da Stamply Box valeu, em julho,
um prémio de 20 mil euros à startup,
num concurso de empreendedorismo
que procurava justamente respostas aos
desafios provocados pela pandemia. “To-
das as partes ganham com esta solução”,
sublinha o responsável. Apesar de ven-
der diretamente as caixas (79 euros para
uma com capacidade de refrigeração,
89 euros a caixa de ultracongelados), a
Mater Dynamics, atualmente sediada em
Lisboa, também vende apenas o módulo
tecnológico – aí custa cerca de 20 euros.
Tiago Cunha Reis, doutorado em sis-
temas de bioengenharia, e os outros três
funcionários da startup vão agora apostar
em novas funcionalidades – segue-se um
acelerómetro, que ajudará a perceber
quando uma caixa foi levantada, pousada
ou, mais importante, quando caiu.

A Argentina é
uma das grandes
apostas para a
Stamply Box,
revela Tiago
Cunha Reis,
CEO da startup

Tudo está pensado para que produtores,
revendedores ou o cliente final possam
ter acesso aos dados da caixa

O formato dos sensores varia em função
do projeto: o sensor à esquerda é mais
resistente para transportes longos
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