(20201200-PT) Exame Informática 306

(NONE2021) #1
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doenças zoonóticas, que passam dos animais para o homem e
que resultam de um desequilíbrio desta relação. Por isso temos
de encontrar um novo equilíbrio, numa nova era geológica, a
do Antropoceno. E evitar não só estes mas futuros vírus passa
por fazer perguntas. Um dos trabalhos dos cientistas é fazer
perguntas difíceis. É isso que esperamos dos cientistas.
E qual o papel do MCTES neste combate?
A Ciência é social e há três pontos: a ciência só se combate
com mais ciência e daí o investimento crescente; a ciência
implica formar mais pessoas e daí o aumento na formação
avançada; e, por fim, a cultura científica da população, e por
isso a aposta no Ciência Viva e nos seus clubes de ciência, que
já são mais de 500.
Como analisa a relação dos portugueses com a Ciência?
No contexto internacional, Portugal vive num bom cenário
porque a população em geral confia nos cientistas. O que não é
verdade noutros países que se debatem hoje com movimentos
de descrença na comunidade científica. É uma batalha que não
está ganha e a relação entre cientistas e sociedade é um campo
de batalha. Veja-se o que se está a passar nos EUA.
A pandemia também terá posto a nu algum desinvestimento
em ciência fundamental, o que não é um problema exclu-
sivamente português. Em virtude disso, haverá agora um
regresso ao apoio à investigação básica?
Eu respondo por Portugal. O orçamento de Estado de 2021 é
uma evidência de que o reforço na ciência está claro. Vamos
ter um aumento na Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)
de 4% em fundos nacionais - muito superior à administração
pública. Um aumento muito importante no ensino superior,
de 30% nas dotações para a ação social escolar, para termos
mais estudantes a estudar, com um reforço da dotação das
instituições em dois por cento. Por isso, ao contrário de outros
períodos de crise, em que a Ciência e o Ensino Superior foram
alvo de cortes, estamos a reforçar estes setores. Sei que outros

É


um dos mais discretos membros do Governo de An-
tónio Costa, discípulo do falecido ministro Mariano
Gago, de quem foi secretário de estado da Ciência,
de 2005 a 2011. Assumiu o Espaço como um setor
de eleição e avançou, há dois anos, para a criação da agência
portuguesa do Espaço, a PT Space. Está ainda determinado
em tornar os Açores num porto de lançamento de satélites.
A mobilização dos cientistas no combate à Covid mudará
a visão que a sociedade tem da Ciência e da comunidade
científica portuguesa?
Não tenho dúvida nenhuma de que sim. Em Portugal e no
mundo. À medida que a pandemia se propaga vamos per-
cebendo que a Ciência cura e que, acima de tudo, a Ciência
é um campo de batalha, porque de facto, há mais de 80 anos
nos dizia Almada Negreiros, no seu único romance Nome de
Guerra, "a Ciência requer um tempo, de que cada um de nós
não dispõe". E de facto vimos relativamente à vacina e aos testes
que a Ciência precisa de um tempo de que não dispomos. O
conhecimento científico acumulado, nas mais variadas formas,
apareceu nesta altura, desde a resolução do problema dos
testes, aos laboratórios que se disponibilizaram, às diversas
terapias, que têm surgido. E este tempo que a Ciência requer
exige um esforço de cultura científica que passa por um debate
estruturado, em que os cientistas têm de estar. É preciso passar
um sinal de responsabilidade às futuras gerações. Saber que
não sabemos e ter humildade perante o desconhecimento
também é cultura científica.
Como é que se comunicam os caminhos da ciência, que inclui
o admitir que não se sabe e, ao mesmo tempo, se evita dar
azo a que surjam movimentos que a negam?
A ideia que se instala muitas vezes de que o risco não existe é
falsa. O risco existe e existirá sempre. A questão mais crítica que
a Ciência nos levará a pensar é como é que se pode combater a
pandemia. Parece que estamos a presenciar um aumento das

DE OLHOS POSTOS


NO ESPAÇO


A crise que estamos a viver só veio reforçar
que a Ciência é a única saída, defende o ministro.
E não há melhor forma de o demonstrar do que no setor espacial

Tex t o Sara Sá Fotos Luís Barra

MANUEL HEITOR
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