(20201002-PT) Exame Informática Semanal

(NONE2021) #1

REPORTAGEM SAÚDE


N


ão é preciso ser epide-
miologista, nem adivi-
nho, para antecipar que
este inverno representará
um gigantesco desafio para o Serviço
Nacional de Saúde. Nos hospitais,
mas também fora deles, com milha-
res de pessoas que testaram positivo
para o coronavírus a serem seguidas
diariamente, pelo telefone, por um
médico ou enfermeiro. Repetem-
-se as perguntas dia após dia: tem
febre, falta de ar, tosse... enquanto
durar a quarentena. Ou seja, até que
a pessoa volte a ter um teste nega-
tivo para a Covid-19. Este trabalho
rotineiro e muito consumidor de
recursos pode muito bem ser feito
por uma solução tecnológica, como
é o caso da e-CoVig. Financiada pela
Fundação para a Ciência e Tecnolo-
gia e desenvolvida por Hugo Silva,
do Instituto de Telecomunicações
(IT), João Sanches do Instituto de
Sistemas e Robótica e João Valente,
da empresa BrainAnswer, o sistema
permite fazer a monitorização re-
mota de pacientes com Covid -19,
através de uma aplicação instalada
no telemóvel. São recolhidos dados
de oximetria, temperatura, ritmo
cardíaco e padrão de respiração, que
permitem acompanhar a evolução a
infeção. Esta informação é analisa-
da e armazenada pela tecnologia de

gestão de dados fisiológicos já exis-
tente, BrainAnswer, sendo também
enviada para o médico assistente.

O QUE DIZ A TUA RESPIRAÇÃO
Quando o mundo parou à conta do
coronavírus, João Sanches tinha
nas suas mãos um grupo de jovens
alunos de Engenharia Biomédica,
talentosos e motivados para contri-
buir. “Tínhamos de fazer qualquer
coisa”, diz o responsável pela licen-
ciatura. Em poucos meses a solução
apareceu. Livrar o SNS de trabalho
desnecessário, manter uma vigi-
lância mais apertada dos sintomas

dos infetados – que já se percebeu
que podem evoluir de forma muito
rápida – aumentar a capacidade de
seguimento e diminuir o risco de
contágio, quer da população, quer
dos profissionais de saúde, são os
grandes objetivos da tecnologia.
E sem necessidade de nada muito
complexo. A câmara do telemóvel é
usada para gravar um vídeo do pa-
ciente a respirar e ainda para me-
dição do ritmo cardíaco (enquanto
está a ser feito o vídeo, o paciente
coloca o dedo na câmara, com o flash
ligado. O aumento ou diminuição
do volume arterial mudam a quan-
tidade de luz do flash que é refletida
pelo dedo e permite a medição da
pulsação - técnica conhecida como
fotopletismografia). Os pacientes
também podem gravar-se ao mi-
crofone, para que o sistema detete
tosse e atividade respiratória, com o
microfone posicionado mesmo por
baixo da narina. Com um simples
dispositivo que pode ser adicionado
à plataforma, pode ainda registar-se
informação sobre temperatura cor-
poral, pressão arterial e saturação de
oxigénio. Para introduzir os dados
no sistema, basta tirar uma foto ao
ecrã do dispositivo. A cada paciente
é atribuído um QR code, que é usado
nas várias componentes do sistema,
como o telemóvel e o computador.

A BrainAnswer,
plataforma desenvolvida
por João Valente, já era
utilizada para análise de
parâmetros fisiológicos
noutros contextos. Agora só
foi preciso adaptar à Covid

Em casos mais
graves associa-se um
pequeno dispositivo
para medição de
parâmetros adicionais
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