(20200918-PT) Exame Informática Semanal

(NONE2021) #1
EX AME INFORMÁTICA

Q

uando em 2019 prevíamos que 2020 podia
ser o ano do ‘não retorno’ da expansão da
mobilidade elétrica, estávamos longe de cal-
cular o que nos esperava: a crise pandémica
provocada pela Covid-19. Esta crise mundial
de saúde pública serviu como despertador para um
problema ainda maior e mais ameaçador para toda a Hu-
manidade, ao qual não temos dado a devida atenção: as
alterações climáticas, a poluição atmosférica, a poluição
sonora, os desastres ambientais (incêndios gigantescos,
secas ameaçadoras, acidentes com petroleiros, agrava-
mento da fome em certas regiões do globo, migrações,
refugiados, o plástico nos oceanos, etc.).
A resposta da generalidade dos países para conter a
pandemia foi a paragem abrupta de muitas atividades
económicas, milhares de aviões no chão, navios atraca-
dos nos portos ou imobilizados em alto mar (por falta de
procura, o preço do petróleo chegou a níveis negativos),
restauração e hotelaria agonizantes, cidades e regiões in-
teiras com o confinamento obrigatório dos seus habitantes.
Milhares de milhões de seres humanos impedidos de se
deslocar, quer fosse para as suas atividades profissionais,
quer fosse por razões familiares ou de lazer.
Cidades fechadas, empresas paradas, transportes pú-
bicos reduzidos à mínima expressão, aumento do tele-
trabalho, tele-ensino, videoconferências... Tudo isto, em
simultâneo, transformou as nossas cidades em lugares
mais silenciosos, menos poluídos e sem congestionamen-
tos de tráfego. As cores durante o dia tornaram-se mais
vivas, ouvíamos o chilrear dos pássaros, várias espécies
de animais, mais ou menos selvagens, aventuraram-se em
ambientes urbanos e ocuparam espaços antes ocupados
pelos humanos e as suas atividades. O caso dos golfinhos
no rio Tejo é o mais emblemático para os portugueses.
Todas estas alterações provocaram uma queda acen-
tuada dos níveis de poluição atmosférica e sonora nas
grandes metrópoles, permitindo a todos nós termos a
perceção real de como serão as grandes cidades sem veí-
culos movidos com motores a gasolina ou gasóleo. Uma
constatação que valeu por todas as conferências, debates
e estudos teóricos sobre o tema. Mas mostrou-nos mais.
Como a organização social e económica poderia ser, eu
diria tem que ser, modificada, com a implementação
do teletrabalho e do tele-ensino onde e quando for
exequível. Com a substituição das reuniões, conferên-
cias, seminários, congressos, de entidades e organismos

internacionais por videoconferências, serão poupadas
toneladas de CO2 em viagens de avião não essenciais e
milhares de horas em transferes, aeroportos, táxis, etc.
Em simultâneo a este cenários tivemos: a entrada em
vigor da diretiva europeia sobre as emissões, que aplicará
pesadas multas aos fabricantes que produzam automóveis
com emissões médias de CO2 superiores aos 95 g/km, o
incremento dos incentivos à aquisição de veículos elétricos
em vários países europeus, ajudas económicas da União
Europeia muito dirigidas aos fabricantes que acelerem os
seus planos de eletrificação das suas gamas, e a entrada
em vigor do European Green Deal, dirigido ao combate
às alterações climáticas. Perante o descalabro das vendas
dos automóveis com motores poluentes, que chegaram
a cair mais de 90%, a resiliência das vendas dos veículos
elétricos (os 100% elétricos e os híbridos plug-in), que
em Portugal ultrapassaram, pela primeira vez, os dois
dígitos com uma quota dos 11%, mas que atingiram os
15% na Finlândia, os 25% na Suécia e os 69% na Noruega.
Assistimos, ainda, ao expandir da Rede Pública de
Carregamento – carregamento rápido e carregamento
normal –, muito pela ação dos operadores privados que
avançam para o terreno com centenas de Postos de Car-
regamento Rápido (PCR) e de Postos de Carregamento
Normal (PCN), quer sejam na via pública, quer sejam
em espaços privados de acesso público como sejam as
grandes superfícies comerciais. Este aumento da oferta
dos carregadores públicos, com maior capilaridade, está
a ser complementado com Redes Privadas, algumas
já instaladas (a Tesla acabou de inaugurar em Loulé
mais uma Estação de Supercarregadores – SuC – com
a potência de 250 kW, cinco vezes mais potente que a
atual oferta da rede pública de carregamento). Entre-
tanto outras redes encontram-se em fase de instalação
(Porsche e outras entidades privadas).
O aumento da Rede Pública de Carregamento Rápi-
do é muito significativo: atualmente existem 342 PCR
aprovados para instalação dos quais 301 pertencem à
Rede Pública, e destes 222 já estão ligados e a funcionar.
O ano de 2020 fruto de uma conjugação de fatores
ficará marcado como o ano do grande arranque da mo-
bilidade elétrica e da sua cada vez maior penetração e
generalização.
Um último dado curioso: a Europa ultrapassou a China
na venda de veículos elétricos.
Não sejas fóssil, conduz elétrico!

MOBILIDADE ELÉTRICA,


O ANO DA GRANDE EXPANSÃO


HENRIQUE SÁNCHEZ
PRESIDENTE DA UVE
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