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A
Inteligência Artificial (IA) faz muitas coisas por
nós – já faz sugestões de respostas automáticas
nos emails do Gmail, já reconhece aquilo
que é dito nas suas conversas do Messenger
do Facebook, dá sugestões de stickers e até
tem a capacidade para o ajudar em processos
de compras, sem sair do Messenger. Até aqui tudo bem
- mesmo tendo a consciência de que algumas respostas
automáticas do email já possam ter causado mais problemas,
devido à falta de tacto, do que propriamente benefícios.
A IA anda a ser aplicada a vários momentos da experiência
humana e, sim, continua ao virar da esquina aquele receio de
que a IA vá ficar com todos os trabalhos dos humanos. E, até
agora, havia um segmento que ainda escapava a este cenário:
os trabalhos mais criativos, como a produção musical, a
literatura ou a pintura. No entanto, isto já não é bem assim:
projectos como o folk-rnn ou o Hello World estão a permitir
ter acesso a música produzida recorrendo à IA. Claro que
nestes casos, continua a ser preciso colaboração entre
humano e máquina, mas em ambos os projectos é perceptível
que a criação artística pode bem passar pela cooperação
entre estes dois mundos.
COMO É QUE A IA PODE CRIAR ARTE?
Quando pensamos em arte, independentemente da
dificuldade em definir o que é arte e sempre tendo em conta
a subjectividade que está subjacente ao tema, há uma boa
parte de aprendizagem que está envolvida na criação artística.
Excepto para os prodígios, também é preciso ter em conta.
Projectos como o folk-rnn, desenvolvido pelos investigadores
da Kingston University e da Queen Mary University of
London, utilizam aprendizagem automática e algoritmos para
conseguir reproduzir música tradicional irlandesa.
Já no caso do Hello World, a ideia é produzir um álbum, com
a colaboração de vários músicos – quase como se a IA se
encarregasse da melodia e o humano tratasse da parte da voz.
Para produzir música, o folk-rnn não segue regras
determinadas à partida. Em vez disso, é colocado no sistema
um grande número de dados sobre música irlandesa, que
depois é transformada em representações matemáticas e
padrões. Como estamos a falar de algoritmos, é muito mais
fácil para a IA conseguir encontrar padrões e relações entre
músicas para conseguir cumprir determinadas tarefas.
E a grande quantidade de dados inserida? Nada mais nada
menos do que 23 mil músicas irlandesas, um repertório
considerável. Depois disso, o folk-rnn já fez as suas
próprias criações – cerca de cem mil músicas, muitas delas
disponíveis online, em volumes de catorze músicas. Já houve
até um concerto com as músicas criadas pelo folk-rnn, por
exemplo. Outro exemplo de projecto em que a criatividade
está a ser transformada pela IA são as Flow Machines.
Tratam-se de algoritmos sofisticados e inovadores, que foram
desenvolvidos para conseguir explorar novas formas de criar,
com um foco especial na música e na arte. Em linhas mais
gerais, estes algoritmos aprendem um determinado estilo
e utilizam a informação apreendida quase como se fosse
um objecto palpável. Imaginemos que era possível utilizar
as características dos Beatles ou a estética de Andy Warhol
como se fosse uma tinta, por exemplo, podendo aplicá-los
AQUILO QUE SÃO ERROS ESTILÍSTICOS PARA UM COMPOSITOR HUMANO PODEM SER COMETIDOS
PELA IA – MAS ISSO PODE ABRIR MAIS HORIZONTES E FUNCIONAR COMO INSPIRAÇÃO.
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