PCGuia265-Fevereiro-2018-opt

(NONE2021) #1

28 / PCGUIA


ESPECIAL


a uma infinidade de novas situações. O projecto Flow
Machines tem cinco anos e é financiado pelo
Conselho Europeu de Investigação e coordenado
pelo Computer Science Labs da Sony. Neste campo,
uma das criações mais conhecidas do Flow
Machines, até agora, é a música Daddy’s
Car. Se voltarmos à analogia do
estilo enquanto uma tinta, podemos
dizer que este tema foi composto
com muitas, muitas pinceladas de
“tinta” da “cor” The Beatles. Para
chegar a um estilo muito parecido
musicalmente ao original, o
algoritmo foi treinado e alimentado
por quarenta músicas de sucesso
dos Beatles.

ERRAR É HUMANO... E DA IA TAMBÉM

As obras de arte nem sempre são únicas
por si só – aquilo que as diferencia é o
estilo que apresentam. E são precisos anos até
aprimorar determinado estilo: Picasso, por exemplo,
passou por várias fases até chegar ao estilo que o tornou
único, o Cubismo. Para a IA, a coisa funciona mais ou
menos de uma forma semelhante, mas com modelos
que são treinados. E, como em qualquer processo de
aprendizagem, a IA também erra durante estes treinos.
Ou seja, os algoritmos conseguem, sim, imitar um
determinado estilo musical, por exemplo, mas muitas
vezes cometem erros básicos, que um compositor
humano não faria. Por isso, muitas das peças musicais
que são compostas por IA têm de ser depois afinadas
por humanos: isso aconteceu com o projecto folk-rnn
e também com o tema Daddy’s Car, por exemplo.
A IA pode tratar de partes como a estrutura, a mistura
e produção, além de conseguir também gerar as letras
para as músicas. De acordo com os investigadores,
a parte boa de utilizar IA em indústrias criativas são
mesmo os erros. A inteligência artificial não obedece
a grandes regras e algo que pode ser um erro no
modelo e algoritmo pode até servir de inspiração para
um compositor. Aquilo que, de acordo com as normas
musicais poderia ser impensável de fazer, um claro

erro estilístico, para a IA são uma composição normal.
Por isso, muitas vezes os investigadores e compositores
até têm interesse em encontrar estes “erros”.

A IA COMO UMA FORMA DE RENOVAR
O MERCADO MUSICAL
Pode parecer redutor quando ouvimos dizer coisas
como «as músicas pop de hoje são todas iguais».
A questão é que isso nem anda assim tão longe da
verdade: há vários vídeos de análise pela Internet e
as estruturas pouco se alteram. Talvez por isso é que
sejam tão “orelhudas”, devido à familiaridade e ao
facto de variarem entre três ou quatro acordes. Se se
alimentam algoritmos com modelos que incluem um
pouco de tudo e a IA não obedece a grandes regras, há
mis espaço de manobra.
A esperança dos investigadores de projectos deste
género apelida mesmo a criação com IA como um
fenómeno de interesse: além de ser curioso ver como
conseguem imitar uma composição humana, também
dão esperança no que toca à novidade, principalmente
se aplicadas ao mercado da pop, que costuma pedir
músicas a velocidade alucinante, para consumo rápido.

IA PARA CRIAÇÃO NO SPOTIFY?

Em Julho do ano passado, o serviço de streaming
Spotify contratou o francês François Pachet. Cientista
e entendido no tema de IA, Pachet foi director do
Computer Science Laboratory da Sony – o mesmo
responsável pelo Flow Machines. Além disso, com
obras publicadas sobre a aplicação da tecnologia à
criação musical, Pachet é visto como um especialista
na temática da criação da música com IA.
Na altura da contratação, o Spotify indicou que Pachet
assumiria o cargo de director do centro de investigação
da empresa, em Paris, mas há quem tenha atirado para
o ar mais questões sobre esta contratação. Afinal, foi
também no ano passado que rebentou uma polémica
com o Spotify, onde vários sites avançaram que o
serviço de streaming estaria a utilizar músicas criadas
em grandes quantidades por produtores que utilizavam
depois um pseudónimo, para alegadamente o Spotify

PROJECTOS COMO O FOLK-RNN OU O ÁLBUM HELLO WORLD ESTÃO A MOSTRAR
COMO A IA PODE AJUDAR NA COMPOSIÇÃO MUSICAL.

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