PCGuia274-Novembro-2018-opt

(NONE2021) #1

HIGH-TECH GIRL


MARIZA FIGUEIREDO High-Tech Girl (hightechgirlblog.com) / [email protected]

22 / PCGUIA

COMO TUDO COMEÇOU?


Trabalho a nível das expressões faciais há
mais de quinze anos, na área da computação
gráfica. Tive vários projectos na área da
Saúde, um dos quais ligado ao autismo. Nesse
projecto criámos uma tecnologia que permitia
desenhar expressões faciais em personagens
3D para ajudar as crianças a comunicar
melhor com as pessoas.
Numa das sessões que fizemos, o pai de uma
das crianças pediu-nos para levar a aplicação
com ele. Passou-se em 2010 e foi como um
momento revelador. Ao questioná-lo por
que a queria, respondeu-me que queria
usar personagens 3D para comunicar com
o filho. Pensei: «Se isso funciona num caso
tão concreto como o de um grupo de pessoas
com tanta dificuldade em comunicar,
poderemos, então, expandi-lo e adaptá-lo a
qualquer comunicação digital». Foi assim que
começámos.


VOLTANDO MAIS ATRÁS NO TEMPO,
COMO SURGIU O INTERESSE DE COMEÇAR
A TRABALHAR NESTA ÁREA?
Na Argentina, comecei a trabalhar na IBM aos
dezoito anos e estudava Engenharia à noite.
Ao terminar o curso já tinha cinco anos de
experiência laboral.
Quando vim para a Europa, quis mudar da
área das redes para o entretenimento. Fiz um
mestrado e doutoramento em videojogos.
Estive cerca de um ano e meio a falar com
empresas de entretenimento para perceber
quais eram as suas maiores dificuldades e
a tentar encontrar soluções. Entre todos os
temas surgiu este: ‘Como criar de forma mais
rápida personagens 3D com uma qualidade
ultra-realista?’.
É um trabalho que ainda hoje demora muitas
semanas, ou mesmo meses, a fazer. São
precisas pessoas com muita experiência a
nível de Engenharia e de Arte, com recurso a
software e hardware muito caros.
Assim, o que estive a fazer foi automatizar
todo o processo de criação de modelos 3D,
e fazendo-o de forma a deixar a definição
da parte estética nas mãos dos artistas. Até
hoje, isso era apenas acessível para empresas
grandes, artistas e engenheiros. Agora,
qualquer pessoa com um telemóvel consegue
criar modelos 3D.


PARA QUE SERVEM ESTES MODELOS?
Com a automatização, abrimos uma nova
dimensão naquilo que se pode fazer com eles.
O grande objectivo é permitir que as pessoas


«QUALQUER PESSOA COM UM TELEMÓVEL


CONSEGUE CRIAR MODELOS 3D»


Verónica Orvalho Fundadora e CEO na Didimo


a devolução das compras, o que implica um
custo muito elevado às empresas. Os modelos
3D podem também ser usados em reuniões
virtuais, comunicação, etc. O foco está na
‘mix reality’, no retalho e na área mobile.

AS REUNIÕES VIRTUAIS, POR EXEMPLO, PODEM
SER FEITAS COM VÍDEOS. QUAL É A VANTAGEM
DO MODELO 3D?
Uma coisa é fazer uma videoconferência e
a outra é conseguirmos aplicar o modelo
3D a uma sala virtual onde temos acesso
ao PowerPoint, documentos Excel e a um
whiteboard para escrever, tudo como se
estivéssemos mesmo numa sala de reuniões.
Para áreas como as Finanças, ou mesmo uma
sala de aulas virtual, por exemplo, não se
pode pôr personagens tipo cartoon, têm de
ser mesmo personagens mais fotorrealistas.

COMO FOI PASSAR DA INVESTIGAÇÃO
PARA A CRIAÇÃO DE UMA STARTUP?
Estava na universidade a investigar e houve
um investidor que, através do Governo
de Portugal, propôs que eu criasse uma
empresa. Assim, o início foi mais fácil. Foi
simplesmente dizer que sim, não sem antes
testar para ver se realmente havia um modelo
de negócio viável. Entretanto, fui convidada
para integrar a aceleradora Techstars, em
Londres, e foi aí que vimos que realmente
havia potencial.

NO ANO PASSADO VENCEU O WOMEN STARTUP
CHALLENGE. COMO TEM SIDO DESDE ENTÃO?
Foi um impulso enorme. Foram centenas
de candidatas e empresas de peso, como
a Google, envolvidas. Tudo isso deu uma
grande visibilidade ao projecto e, ainda mais
importante, uma credibilidade muito forte,
validando o nosso trabalho e levando a que
outras empresas também acreditassem em
nós e trabalhassem connosco.

HÁ MUITO MENOS MULHERES QUE HOMENS
À FRENTE DE STARTUPS, NOMADAMENTE
DAS TECNOLÓGICAS. O QUE É PRECISO PARA
MUDAR ESTE CENÁRIO?
Penso que é por todas as circunstâncias: o
tempo é limitado, especialmente quando
se tem uma família. É preciso um esforço
enorme para conseguir avançar e os
investidores sabem disso. É necessário
mudar o paradigma no sentido de ajudar as
mulheres que queiram ser empreendedoras,
motivando-as. É possível. É uma questão de
reorganizar a logística. Acho que é por aí.

Nasceu na Argentina,
mas há cerca de quinze
anos que o Porto é a sua
base. Ali está a Didimo,
empresa que criou e cujo
projecto foi premiado
no ano passado na
competição internacional
Women Startup
Challenge VR and AI. A
sua especialidade são
os avatares em 3D e
Verónica Orvalho aposta
que em cinco anos cada
um terá o seu.

criem a sua representação no mundo virtual,
num meio digital. Pode aplicar-se, por
exemplo, na área da saúde, onde há pessoas
que não conseguem falar ou mexer-se. Neste
caso, é possível pôr a nossa cara e uma voz
no mundo digital. Para as comunicações
virtuais, uma pessoa pode finalmente existir.
Num cenário completamente diferente, como
a moda, torna possível fazermos uma réplica
de nós próprios para fazermos compras
online. Ao poder experimentar roupa, a
satisfação é maior e, em consequência, reduz
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