Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Ministério da Economia
Castello Branco defendia que a guinada era necessária
para que a empresa pudesse, ao mesmo tempo,
explorar as reservas gigantes do pré-sal e reduzir sua
dívida, garantindo sobra de recursos para remunerar os
investidores.
Sua visão de futuro contemplava uma Petrobras focada
na atividade de exploração e produção e com ativos
concentrados na região Sudeste - no refino, ficaria com
apenas s das 13 unidades que tem hoje para
abastecimento dos maiores mercados consumidores - e
boa pagadora de dividendos.
O executivo não cansava de repetir que a estatal
remunera mal seus acionistas, incluindo a União, e no
fim de 2019 a estatal aprovou política que amplia os
valores distribuídos aos acionistas quando a dívida
bruta estiver abaixo de US$ 60 bilhões - no terceiro
trimestre de 2020, eram US$ 79,6 bilhões.
Nos dois primeiros anos em que Castello Branco esteve
à frente da Petrobras, a produção de petróleo e gás da
companhia cresceu 8%, para 2, 84 milhões de barris de
óleo equivalente por dia, resultado da entrada em
operação de plataformas contratadas pelas gestões
anteriores.
Em 2019, a estatal teve lucro recorde de R$ 40 bilhões,
impulsionado pela venda de ativos como gasodutos e
ações da BR Distribuidora. O resultado de 2020 será
divulgado na próxima terça (23 ), mas virá com forte
impacto da pandemia - até o terceiro trimestre, o
prejuízo acumulado era de R$52,8 bilhões.
O endividamento, principal meta da gestão da empresa
após a crise provocada pelo esquema de corrupção
investigado pela Operação Lava Jato, caiu de US$ 84,4
bilhões em dezembro de 2018 para os US$ 79,6 bilhões
em setembro de 2020.
A estratégia de Castello Branco tinha apoio do mercado
financeiro, que esperava que a estatal se tornasse uma
"máquina de dividendos", nas palavras do banco BTG
Pactuai, e do conselho de administração da companhia,
hoje formado majoritariamente por membros
independentes do governo.
O discurso se assemelhava ao da mineradora Vale, por
onde passaram Castello Branco e executivos levados
por ele à diretoria da Petrobras, que teve em sua gestão
a menor proporção de executivos de carreira na estatal
da história recente.
Essa nova diretoria levou a um acirramento das
relações com sindicatos de petroleiros, que são
contrários à venda de ativos e acusam a gestão da
empresa de se beneficiar financeiramente do processo,
já que em 2019 foi aprovado um novo plano de
remuneração que garantiria até 13 salários ao
presidente da empresa em caso de cumprimento de
determinadas metas.
Apesar da alegada independência, Castello Branco teve
que ceder a pressões do governo. Logo no início de seu
mandato, anunciou a promoção a gerente de um ex-
candidato a deputado apoiado por Bolsonaro. Carlos
Victor Guerra Nagem acabou vetado para o cargo por
falta de qualificação, mas se tornou assessor especial
da presidência da companhia, cargo com salário de
cerca de R$ 55 mil na época.
Em abril de 2019, Castello Branco teve que recuar em
um reajuste no preço do diesel após pressão do
presidente da República, que também naquela época
temia reações dos caminhoneiros. Em nenhum dos dois
casos o executivo admitiu a interferência: no primeiro,
disse que Nagem tinha o currículo adequado; no
segundo, que a preocupação com os caminhoneiros era
legítima.
A troca no comando da estatal ainda deverá ser
aprovada pelo conselho de administração da
companhia, que chegou a ameaçar veladamente com
renúncia coletiva. Porém, membros avaliam que
Petrobras está blindada e a resistência à mudança
perdeu força.
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