Governo atual se alimenta do combate a inimigos imaginários
Banco Central do BrasilFolha de S. Paulo/Nacional - Mercado
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - SelicClique aqui para abrir a imagemAutor: Marcos Lisboa Presidente do Insper, ex-
secretãrio de Política Econômica do Ministério da
Fazenda (20
OPINIÃO
A demissão do presidente da Petrobras pode tornar
ainda mais difíceis os meses à frente. O equívoco da
decisão, e a sua forma truculenta, adiciona uma pedra
de sal em uma economia já conturbada.
O câmbio depreciado, em meio a uma estrutura
tributária disfuncional, é o responsável pelo aumento do
preço dos combustíveis acima da valorização do preço
do petróleo no mercado mundial.
A culpa é exclusivamente nossa. A falta de uma agenda
consistente para enfrentar a pandemia e os problemas
estruturais da economia resultaram em uma alta da taxa
de câmbio bem maior do que nos demais países.
Elá miúto se sabe das nossas distorções tributárias, e
há propostas na Câmara para corrigi-las. Mas o governo
nunca soube por onde seguir. A inação do Planalto
resultou nesta quadratura do círculo.Os preços continuam a subir, e os dos combustíveis
aumentam ainda mais em razão do câmbio. O
desemprego permanece elevado. A incerteza sobre os
rumos da economia tem resultado em taxas de juros de
longo prazo mais altas. A inflação preocupa e, em
pouco tempo, o BC terá que aumentar a Selic na
contramão da imensa maioria do sBancos Centrais dos
demais países.A intervenção truculenta na Petrobras foi um desastre,
mas apenas reproduz velhos vícios. Tem sido frequente,
na nossa história, acreditar que o sproblemas se
resolvem com uma canetada do presidente.Quantas vezes já interferimos nos preços dos
combustíveis e no setor elétrico acreditando que, assim,
conseguiríamos a mágica de baixa inflação e preços
acessíveis?Deu errado, seguidamente. E a conta sempre cai no
colo da população, que se vê obrigada a pagar preços
mais caros por serviços essenciais.A oferta adequada de energia é o resultado de
investimentos de longo prazo. Isso requer uma agenda
de governo, incluindo instituições consolidadas, que
garantam as regras do j ogo e que viabilizem a
participação do setor privado.Quem vai investir em um Brasil que, frente a problemas
corriqueiros, intervém arbitrariamente em empresas com
acionistas privados?Melhor buscar outros países. Daí a nossa taxa de
câmbio estar tão depreciada.Se o governo quer atender aos caminhoneiros, deveria
utilizar recursos do Tesouro para subsidiar o preço do
diesel. Desse modo, faria a política pública com
transparência, sem impor, arbitrariamente, perdas aos
acionistas minoritários da Petrobras.