Clipping Banco Central (2021-02-22)

(Antfer) #1

Bolsonaro deveria se inspirar na campanha de vacinação de Israel


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Em vez de se entusiasmar com spray em fase inicial de
testes, ele deveria aprender outra lição por lá


Depois da cloroquina - ineficaz no tratamento da Covid-
19 - , o novo objeto de desejo do presidente Jair
Bolsonaro é um spray nasal contra o novo coronavírus
desenvolvido em Israel. Na última segunda-feira,
quando estava no litoral de Santa Catarina, Bolsonaro
disse, numa transmissão ao vivo, que a Anvisa
analisará em breve o pedido para uso emergencial do
produto, testado no Centro Médico Ichilov, em Tel Aviv.


Fora do mundo encantado do bolsonarismo, o que se
tem é bem menos do que parece. O medicamento
(EXOCD24), testado inicialmente para tratamento de
câncer, está na fase 1 de estudos. É verdade que os
primeiros resultados foram animadores - curou 29 dos
30 pacientes moderados ou graves entre três e cinco
dias - , mas os próprios pesquisadores disseram que
mais estudos são necessários para comprovar eficácia
contra a Covid-19.


Mais producente seria se Bolsonaro olhasse para outra
experiência de Israel: a campanha de vacinação, esta


sim com resultados espetaculares. Israel é o país que
mais vacinou até o momento - mais de 40% da
população receberam a primeira dose (no Brasil, menos
de 3% até agora). Em dois meses, imunizaram-se mais
de 90% dos adultos acima de 60 anos. Os resultados já
começam a aparecer. O número de mortes de idosos
diminuiu 40%; as internações caíram 44%, e a
quantidade de casos graves recuou 92%. Boa notícia
para Israel e para o mundo, já que corrobora o poder da
vacinação paira deter a pandemia.

O desempenho é creditado a três feitores principais:
população relativamente pequena (9,3 milhões),
estoque assegurado de vacinas e um sistema de saúde
que se revelou bem-sucedido na tarefa de coordenar a
logística de vacinação. As doses da Pfizer/BioNTech
foram reservadas com antecedência, e a campanha
começou em 19 de dezembro. Ao longo da pandemia, o
país implantou três lockdowns severos. Só agora, com
quase metade da população vacinada, as medidas de
restrição começam a ser aliviadas. Em alguns lugares,
como academias, hotéis e cinemas, a frequência só
será permitida com a apresentação de um passaporte
digital de vacinação.

Claro que, como em qualquer outro lugar, ainda há
desafios. O número de mortes e de casos diários ainda
é alto. Uma das preocupações é a queda na adesão à
vacina pela população mais jovem e por grupos
ultraortodoxos, que não cessaram de promover
aglomerações. Sem participação maciça da população,
não será atingida a imunidade coletiva (ao menos 70%),
crucial para controlar a pandemia.

Vale dizer que a vacina da Pfizer aplicada em Israel - e
noutros países como Chile e México - é a mesma que
Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,
desprezaram no ano passado, sob o pretexto de que as
condições do contrato eram desfavoráveis. Ignorou-se a
lei da oferta e da procura. Agora, bate-se à porta das
farmacêuticas mendigando doses. Bolsonaro deveria
saber que mais vale uma vacina no braço do que sprays
milagrosos voando em laboratório.
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