Clipping Banco Central (2021-02-22)

(Antfer) #1

FERNANDO GABEIRA - Que país é este?


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: FERNANDO GABEIRA


Festas clandestinas, variante do corona, vacina em
falta, vacina de vento, às vezes acho que o Brasil se
deixa devastar pelo vírus.


É importante compreender não só pela pandemia, mas
também pela sensação de que somos muito vulneráveis
diante de obstáculos futuros. O governo tem uma
grande culpa na tragédia. Um estudo divulgado pela
"Lancet" afirma que os erros de Trump contribuíram
para 40% das mortes nos EUA.


Estudo semelhante no Brasil, certamente, mostraria que
a política de Bolsonaro matou muito mais. Trump pelo
menos financiou a vacina, Bolsonaro foi o único
estadista no mundo a contestá-la.


Quanto ao governo, resta apenas denunciar seus erros,
juntar documentos e esperar que os tribunais o julguem.


Mas há algo na própria sociedade brasileira que precisa
de uma análise. Tanta gente nas festas de fim de ano,
tanta gente nos bailes de carnaval clandestinos, tanta


gente sem máscara, é um movimento inevitável. Por
que valorizamos tanto a liberdade individual em
contraste com um certo descuido pelo coletivo, pela
sensação de pertencimento?

Se minha hipótese é verdadeira, não vão adiantar muito
lições de moral, campanhas educativas. Elas apenas
patinam na superfície do problema. No Brasil, as
pessoas sentem que a cidadania traz poucas
vantagens; logo, não merece nenhum tipo de sacrifício.

Ali em 2013, o grande movimento espontâneo já parecia
indicar uma insatisfação com os serviços públicos que
pouco devolviam aos impostos pagos.

No princípio da pandemia, que demandava tanta
solidariedade, surgiram notícias de corrupção em
diferentes estados. Respiradores comprados em casas
de vinho, hospitais de campanha superfaturados; a
sensação que esses fatos transmitiram era que entre os
governantes reinava o lema de cada um por si.

Quando surgiu a quarentena, era evidente para todos a
impossibilidade de realizá-la no exíguo espaço de
algumas moradias. A orientação moral era esta: façam
quarentena, inclusive para proteger os outros. Mas
fomos incapazes de oferecer uma rede de hotéis,
pousadas e abrigos que pudessem ser usados para
isso. Da mesma maneira, dizíamos: "Lavem as mãos".
Mas fomos incapazes de pensar um esquema de
abastecimento emergencial nas comunidades onde a
água é rara, às vezes inexistente.

Não houve uma configuração especial no transporte
público para oferecer alternativas paira que circulasse
mais vazio, com álcool disponível e até máscaras para
quem não as tinha.

A educação e a cultura passaram a depender do mundo
virtual. Mas não foi feito um grande esforço para
estender a conexão de qualidade para que as crianças
tivessem algumas aulas, e os adultos, alguma diversão
e arte.
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