Clipping Banco Central (2021-02-22)

(Antfer) #1

DEMÉTRIO MAGNOLI - Bolsonaro 3.0


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: DEMÉTRIO MAGNOLI


Quando Bolsonaro anunciou a troca do presidente da
Petrobras, recordei as conversas que mantive com
figurões do "mercado" no intervalo entre os dois turnos
da eleição presidencial de 2018. A turma da alta finança
deplorava as idéias políticas do candidato nostálgico
pelo AI-5, mas confessava que ele teria seus votos:
afinal, diziam, Paulo Guedes garantiria o triunfo de uma
política econômica liberal. Pobres liberais ricos de miolo
mole...


O governo Bolsonaro original exibia duas faces. Um
lado do rosto era Olavo de Carvalho: o reacionarismo
delirante de uma ultradireita mística, que almeja
restaurar passados diversos, nossos e estrangeiros. O
lado complementar era Guedes : um liberalismo
econômico de ângulos retos, inculto e inconciliável,
extraído de cartilhas de autoajuda para banqueiros de
investimento.


Sob pressão do inquérito sem fim do STF, parte da
mobília foi lançada fora do caminhão. A famiglia acima
de todos! A espada erguida pelos juízes sobre a cabeça


dos filhos do presidente dissolveu as lealdades frágeis.
O espectro do impeachment fez o resto. Bolsonaro
livrou-se, silenciosamente, do "núcleo ideológico", ou
seja, das camarilhas de idiotas e oportunistas que
surfaram a onda da "nova política".

O governo Bolsonaro 2 .0 foi inaugurado pelo abraço
úmido do Centrão. No lugar da revolução reacionária, a
"velha política" de resultados. As eleições ao comando
da Câmara e do Senado - em especial, a derrota de
Rodrigo Maia - mostraram que a geringonça poderia
funcionar. Guedes, porém, continuava lá, no fundo do
palco, encenando truques vulgares à luz pálida de um
holofote com filtro.

A gestão responsável de Roberto Castello Branco à
frente da Petrobras provocou a segunda ruptura. De
olho no preço dos combustíveis e, principalmente, na
chantagem perene dos aliados caminhoneiros,
Bolsonaro vestiu a armadura de Dilma Rousseff. A
empresa pública de capital aberto será convertida, uma
vez mais, em loja de conveniência do Planalto. "Um
manda, outro obedece": um general de pijama
transformará os piores instintos presidenciais em
política de preços da estatal petrolífera.

O governo Bolsonaro 3.0 foi inaugurado na sexta-feira
fatídica da confirmação parlamentar da prisão de Daniel
Silveira e da defenestração presidencial de Castello
Branco. No Congresso, o Centrão deu as costas ao que
resta do "núcleo ideológico" e cantou as glórias eternas
da democracia, ignorando o pedido de clemência de um
valentão de araque que borrava as calças. No Planalto,
o presidente bombardeou o castelo já arruinado de
Guedes, humilhando publicamente o fiador de seu
governo junto ao "mercado".

Bolsonaro 3.0 consagra uma aliança nem tão excêntrica
assim, entre o fisiologismo do Centrão e o
corporativismo militar. Numa ponta, situa-se a base de
parlamentares sem preferências ideológicas, mas
extensa prática no esporte da captura dos fragmentos
lucrativos da máquina estatal. Na ponta oposta, um
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