Clipping Banco Central (2021-02-22)

(Antfer) #1

EDUARDO AFFONSO - Vai quem quer e faz quem quer


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: EDUARDO AFFONSO


Vai Quem Quer fica em Duque de Caxias, na Baixada.
Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, no subúrbio. O
que as une aqui não é a semelhança no nome. São os
livros, o fato de serem favelas e a Favelivro, ação que
une favelas e livros.


Tudo começou quando Demézio Batista, livreiro,
resolveu lançar um "movimento literário", que consistia
em distribuir livros e abrir bibliotecas em favelas e
periferias. Batizou o projeto de "Favelivro", sem medo
da palavra condenada pelo politicamente correto
("Quem mora na favela não se importa"). Para levar
adiante a iniciativa, convidou Verônica Marcílio,
professora de literatura e contadora de histórias.


Isso em 2012. Ano passado, inauguraram a Biblioteca
José Mauro de Vasconcelos na Vai Quem Quer. Daqui
a alguns meses, a Faz Quem Quer vai ganhar a
Biblioteca Fernanda Abreu. Entre uma e outra,
colocaram para funcionar a Sérgio Buarque de Holanda,
em São Gonçalo, e a Hélio de la Pena, no Complexo do
Caju. Outras nove estão a caminho.


Não há patrocinador oficial ou dinheiro público. Tudo
vem de doações. Parceiros, como a Afrotribo e a
Biblioteca O Mundo da Lua, ajudam no recolhimento do
que é conseguido. Bibliotecários fazem trabalho
voluntário na organização do acervo, na condução das
atividades.

São os moradores que pedem a instalação das
bibliotecas - e são também eles que escolhem a
personalidade homenageada. A coisa é simples,
espontânea, sem cálculos políticos marqueteiros. Foi
José Mauro de Vasconcelos por causa do hoje
esquecido"Meu pé de laranja-lima", clássico da literatura
infanto-juvenil dos anos 60 Pena por uma inusitada
militância botafoguense no Caju. Será Fernanda Abreu
porque seu funk tem muitos fãs em Rocha Miranda.

E, como quem tem padrinho não morre pagão,
Fernanda Abreu se mobilizou para conseguir mobiliário,
Hélio de la Pena chegou carregado de caixas. Ambos
abraçaram a causa e têm se empenhado na
arrecadação de bons livros (há quem doe apenas para
se livrar do que não quer mais na estante, do que não
fica bonito como fundo de laive; há quem doe por saber
que quem leva livros para uma favela leva mais que
material de leitura: abre perspectivas, muda histórias de
vida). "Os livros me levaram aonde estou", diz o Hélio -
que é "de la Pena" por ter nascido no subúrbio da Vila
da Penha. Aonde os livros poderão fazer chegar os
meninos da Cidade de Deus, da Vila Kennedy, do Morro
do Querosene?

Em dezembro, seguindo os protocolos de prevenção à
Covid-19, a Favelivro distribuiu o kit "Vacina Literária",
com livros infantis, sabonetes, frasco de álcool em gel e
máscaras de proteção. Em março, a ação será
retomada, junto com a contação de histórias.

Uma bela história a contar seria ou estratégias de e 70.
Foi Hélio dela esta: a de quem acredita na cultura como
artigo de primeira necessidade; a de quem entende
bibliotecas como pontos de encontro, de descoberta, de
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