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(Antfer) #1

ANTONIO GOIS - O impacto de um bom diretor


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Sociedade
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: ANTÔNIO GOIS


Dentre os fatores internos à escola, somente os
professores superam a importância de um bom diretor
para a aprendizagem dos alunos. Esta afirmação é de
um influente relatório, publicado em 2004 nos EUA,
pelos pesquisadores Kenneth Leithwood, Karen
Seashore Louis, Stephen Anderson e Kyla Wahlstrom. A
revisão de estudos acadêmicos na época foi financiada
pela organização Wallace Foundation, que na semana
passada voltou a divulgar um novo documento
encomendado a especialistas, sintetizando, a partir de
pesquisas publicadas nos últimos 20 anos, o que
sabemos sobre como diretores impactam estudantes e
suas escolas.


O novo relatório - de autoria dos pesquisadores Jason
Grissom, Anna Egalite e Constance Lindsay - confirma o
efeito positivo que um bom diretor tem sobre os alunos,
mas revela que ele é muito maior do que o estimado há
20 anos, além de não se restringir a resultados de
aprendizagem em testes. As ações lideradas por
gestores eficazes diminuem a indisciplina, aumentam a
frequência dos estudantes, melhoram a satisfação dos


professores com seu trabalho e diminuem a rotatividade
do corpo docente.

Uma das conclusões do relatório divulgado na semana
passada é que, ainda que o impacto de um bom diretor
seja menor do que o de um professor, é preciso
considerar que esse efeito, no caso do gestor escolar, é
sentido por todos os alunos de uma escola, e não
apenas pelos que estão numa sala de aula.

Esta comparação entre diretores e professores, porém,
não deve ser interpretada como se um fosse mais
relevante do que o outro, já que uma das ações de
maior efetividade de gestores escolares é justamente o
apoio ao desenvolvimento dos docentes, ajudando a
construir um bom clima para a aprendizagem e
facilitando a colaboração profissional entre pares dentro
da escola.

Mesmo baseado principalmente na literatura acadêmica
anglo-saxã, os resultados são coerentes com achados
de estudos no Brasil e na América Latina. As
conclusões soam intuitivas e óbvias. Mas, se é assim,
por que damos tão pouca atenção a esses profissionais
no Brasil?

Dados do Censo Escolar de 2019 revelam que apenas
um em cada dez diretores de escolas públicas fizeram
curso de formação continuada em gestão escolar com
ao menos 80 horas de duração. Na maioria das redes
municipais, o critério de seleção para o cargo é a
indicação política. Com raras exceções, documentos
legais que orientam o que se espera dos diretores no
exercício da função parecem feitos para burocratas ou
síndicos, e não para lideranças com capacidade de
afetar positivamente a comunidade escolar. Por fim, as
políticas de apoio são insuficientes e, tal como no caso
dos professores, os salários, pouco atrativos.

Um primeiro passo para alterarmos essa realidade é
termos clareza do que esperar desses profissionais, de
modo que as políticas de formação, seleção e apoio
sejam coerentes. Países que mais avançaram nesse
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