Partidos parasitas
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemAs manifestações de 2013 escancararam uma crise de
representatividade que só se agravou após as
revelações da Operação Lava Jato. Mas o
descolamento entre partidos e eleitores não reflete
apenas mudanças conjunturais no ideário político, e sim
distorções estruturais que só serão sanadas com
reformas básicas.
Um levantamento da ONG Transparência Partidária
aponta que apenas 0,1% dos filiados a partidos faz
contribuições financeiras frequentes às legendas. O
dado expõe a total dependência do dinheiro público por
parte dos partidos e a completa desconexão entre suas
cúpulas e suas bases. Para praticamente todos os
partidos, a proporção de filiados que contribuem
frequentemente não chega a 1%, em geral nem a 0,1%.
E, dos 18 mil contribuintes frequentes, 8 em 10 se
concentram em dois partidos: Novo e PT. Mas mesmo
entre os filiados do PT, só 0,43% contribui
regularmente.
A única exceção é o Novo, no qual 26% dos filiados
contribuem frequentemente. O partido é contrário ao
uso de fundos públicos, já devolveu os recursos do
fundo eleitoral e pe- diu autorização para devolver os do
fundo partidário - desde que não sejam redistribuídos a
outros partidos. A legenda depende das mensalidades
cobradas aos filiados, de R$ 30 em média.Como disse a cientista política Lara Mesquita, da FGV,
as regras para distribuição dos recursos possibilitam um
"encastelamento" das cúpulas partidárias."Os partidos adotaram uma estratégia, em certa medida
confortável, de garantir sua sobrevivência a partir de
recursos públicos." A estratégia foi consolidada em
2017, quando os partidos no Congresso, não satisfeitos
com o fundo partidário, inventaram o fundo para
campanhas eleitorais.Logo que, em 2015, na esteira dos escândalos
revelados pela Lava Jato, o STF declarou
inconstitucional o financiamento eleitoral por empresas,
era compreensível o estabelecimento de um fundo
público, a fim de que as campanhas não fossem
abruptamente dominadas pe- las pessoas físicas ricas.
Mas deveria ser um mecanismo de transição, que desse
tempo para que os partidos, como entes privados que
são, se organizassem para se sustentar com a
contribuição de seus simpatizantes.Mas não foi o que aconteceu. Ao contrário: os recursos
públicos para os partidos cresceram a galope. Entre
1995 e 2018, os gastos anuais do fundo partidário
saltaram, em valores deflacionados, 9.766%. Em 2000,
o Estado respondia por menos de 8% dos custos
eleitorais; em 2018, respondeu por quase 70%. Em
2020, o Congresso aprovou um aumento de 18% no
fundo eleitoral. Com essa crescente fonte de receita
dada a si mesmos pelos partidos com o dinheiro do
contribuinte, não surpreende que o número de filiados
esteja em queda. Afinal, por qual motivo as legendas se
preocupariam em recrutá-los e conservá-los? Não à toa,
segundo a Transparência Partidária, nos últimos dez
anos o porcentual de mudança da composição das
Executi- vas Nacionais foi de ínfimos 24%.