Clipping Banco Central (2021-02-22)

(Antfer) #1

CARLOS PEREIRA - A improvável frente de oposição


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: CARLOS PEREIRA


Na ausência de blocos e troças carnavalescas nas ruas
nesse carnaval da pandemia, o que predominou foi a
melancolia de seus foliões. Por outro lado, para diminuir
o vazio no coração dos seus brincantes, o que não tem
faltado são partidos querendo cacifar seus candidatos a
presidente para as eleições de 2022. Insatisfeitos com o
governo de Jair Bolsonaro têm defendido a necessidade
de formação de uma frente suprapartidária de oposição
ao presidente. O objetivo seria viabilizar uma
candidatura única capaz de der- rotá-lo. Acredita-se que
se os partidos de oposição se apresentarem
pulverizados, cada um com seu "bloco" (ops! candidato)
à Presidência, Bolsonaro teria maiores chances de se
reeleger. Mas a viabilidade de uma frente única de
oposição é improvável.


Partidos políticos em ambiente institucional que
combina presidencialismo e multipartidarismo vivem um
dilema de difícil resolução: seguir uma trajetória
protagonista/majoritária, ao apresentar um candidato à
Presidência; ou jogar o jogo de partido coadjuvante,
tentando exercer o papel de pivô ou de me- diano do


Legislativo.

Se o partido for vencedor na trajetória majoritária
certamente terá acesso aos maiores retornos políticos.
Mas se perder, terá que estar preparado para comer "o
pão que o diabo amassou" e amargar a condição de
majoritário perdedor com os piores retornos pelos
próximos quatro anos, nutrindo a expectativa de se
tornar majoritário vencedor nas próximas eleições. Por
outro lado, se o partido decidir seguir a trajetória de
legislador mediano e ocupar a posição de âncora no
Legislativo, pode auferir re- tornos intermediários entre
os obtidos pelos majoritários vencedor e perdedor.

A escolha de uma determinada trajetória não é uma
camisa de força. Partidos podem mudar de trajetória,
mas estas mudanças geram custos não triviais.

Por exemplo, um partido pivô no Legislativo que decide
mudar de trajetória para jogar o jogo majoritário corre o
risco de perder a próxima eleição presidencial e assim
obter uma recompensa menor do que obteria se tivesse
continuado a jogar o jogo coadjuvante. Da mesma
forma, se um partido trilha a trajetória majoritária e
fracassa, pode mudar de trajetória e começar a jogar o
jogo do partido coadjuvante. Mas, dependendo de quão
amarga e competitiva foi a campanha presidencial, pode
levar mais tempo para que o perdedor majoritário
envergonhado construa pontes de confiança e de
cooperação com o vencedor majoritário.

O racha ocorrido com o DEM na eleição do Presidente
da Câmara expressa muito bem esse dilema. Rodrigo
Maia tentou alçar o DEM a um voo rumo ao
protagonismo, talvez com a candidatura de Luciano
Huck à presidência. Mas a bagagem pesada - sua
trajetória mediana - obrigou o partido a uma
aterrissagem de emergência num descampado no
interior da Bahia ... A maioria do DEM, sob a liderança
de ACM Neto, simplesmente preferiu continuar na sua
trajetória coadjuvante. Os riscos e custos de mudança
de trajetória seriam altos demais. O mesmo
comportamento se espera do MDB, PSD, PTB, PSB, PC
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