cenários nos quais pode trazer uma exposi-
ção acrescida para os utilizadores, mas são
difíceis de explorar. E a partilha de dados
é quase toda ela feita de forma anonimiza-
da. Nós, meios de comunicação, falhamos
por não termos conseguido explicar isto de
forma simplificada. Mas falhou também o
Governo, que lançou uma aplicação que de-
pende de muitos ‘ses’ sem fazer um grande
esforço para ensinar a população em tornar
a app da discórdia num sistema de maior
eficácia no controlo da pandemia. Porque
sejamos sinceros, muitos portugueses que-
rem esta aplicação – já foram feitos mais de
2,5 milhões de downloads – e aos muitos que
não a querem não é pela obrigatoriedade que
se lá vai, é com uma aposta na discussão dos
prós e contras da sua utilização que estes po-
derão tomar uma decisão em consciência e
não por impulso, por falta de conhecimento
ou só porque se é do contra.
E se pensa que toda a discussão gerada em
torno da Stayaway Covid tão cedo não se
volta a repetir, permita-me partilhar uma
opinião diferente: à medida que cada vez
mais aspetos da nossa vida são e dependem
do mundo digital, à medida que o mundo
avança para situações de grande emergên-
cia (hoje a pandemia, amanhã as altera-
ções climáticas, no dia seguinte a falta de
água, logo seguido das grandes migrações,
da falta de comida, de futuras pandemias
ainda mais agressivas e por aí fora...), quer
queiramos, quer não, vamos ter de discutir
cada vez mais os limites da privacidade,
da segurança e do que estamos dispostos
a dar em troca para que nada de mal nos
aconteça. E podemos partir de um princípio
básico: é da natureza humana querer saber
sempre mais sobre os outros, seja a vizinha
do quinto esquerdo, uma empresa bem ou
mal intencionada, ou até o próprio Governo.
É por isso que sou da opinião que estamos
todos a dever um grande obrigado – sim,
essa palavra que para algumas pessoas é
difícil de articular, seja em que situação
for – à Stayaway Covid. Fez-nos discutir,
fez-nos conhecer pontos de vista diferentes,
fez-nos mais preparados para debates aos
quais, por muito que não queiramos, e por
muito com os quais não possamos concordar
- mas ainda temos esse direito! – não vamos
escapar, e deixa-nos mais preparados para
o incrível e aterrador futuro que nos espera.