Sínteses de autores-secundário.2021

(José Nuno Araújo) #1
O essencial (guia prático) de Português – ensino secundário

 Ilha dos Amores

Sobreposição de 3 planos: os viajantes confraternizam com as entidades mitológicas e ouvem a História de Portugal futura;
ilha imaginária paradisíaca c/ ninfas amorosas (símbolo do prazer/amor), como recompensa pelos perigos e tormentas que
enfrentaram; Resultado=imortalidade (união homens-deusas); "bicho da terra tão pequeno" venceu as próprias limitações e
foi além "do que prometia a força humana".


 Valor Simbólico da Mitologia (função da mitologia em “Os Lusíadas”):
uma alegoria de exaltação do grande feito dos portugueses
Embelezar a narração que se arriscava a ficar árida;
Colocar a ficção ao serviço da realidade;
Engrandecer / Exaltar os portugueses, nomeadamente na formação de profecias e no empreendimento marítimo;
Aumentar os feitos, aumentando obstáculos;
Evidenciar a supremacia dos homens, face ao confronto com os deuses *;
Constituir uma parte importante do maravilhoso inerente aos poemas épicos em geral;
Assegurar a unidade interna da ação pela criação de personagens.


  • Os deuses como autores de referências que engrandecem os portugueses, nomeadamente na formação de profecias; os
    deuses como pólo de confronto permanente com os homens, de modo a que seja evidenciada a supremacia destes últimos:
    “eu canto o peito ilustre Lusitano / a quem Neptuno e Marte obedeceram” (I, 3)
    Sendo Camões um poeta cristão, explica porque é que invocou seres mitológicos?
    A incongruência que há na invocação de seres da mitologia pagã por um poeta cristão explica-se, não só
    pelo facto de Camões ser um cristão e simultaneamente humanista, mas também por estar ao serviço de uma
    ideologia cavaleiresca e ser um renascentista apaixonado pelos moldes dos poemas greco-romanos.
    Não importa que ele não acreditasse na mitologia pagã, pois para ele era apenas uma alegoria (um
    recurso) para melhor exprimir a sua mensagem.
    Em suma, estamos perante a ficção ao serviço da realidade.
    RECURSOS LINGUÍSTICOS (mitificação do herói):
    A constituição da matéria épica:
    A matéria épica em “Os Lusíadas” começa logo no início da obra com a proposição (“eu canto o peito ilustre lusitano”, ou seja, o
    povo português, um herói coletivo; a invocação (E vós, Tágides minhas”, ou seja, o poeta pede auxílio às ninfas do Tejo, que se situam
    no plano da mitologia; a dedicatória, em que o poeta se dirige ao rei D. Sebastião, com a simbologia que lhe está associada.
    Acresce referir as considerações do poeta ao longo da obra, que começam por estar presentes na Proposição, nos versos “Se a
    tanto me ajudar o engenho e arte” e “Que outro valor mais alto se alevanta”. Nestas há a salientar as considerações do poeta sobre: i) a
    fragilidade da vida humana; ii) a incultura dos portugueses; iii) a necessidade de existir esforço para se atingir os fins, os lamentos do
    poeta no âmbito das adversidades da vida e crítica aos ambiciosos, dissimulados e exploradores; iv) o poder corruptor do dinheiro; v) o
    espaço e as ninfas; vi) a máquina do mundo; vii) os conselhos ao rei D. Sebastião. Para o efeito o poeta recorre à utilização da 1ª
    pessoa, do adjetivo e de recursos estilísticos, tais como: anáfora, comparação, metáfora, antítese, anáfora, anástrofe, hipérbole e ironia.
    Deste modo, o poeta, ao longo de todo este poema épico, tem presente a matéria épica, não só pela glorificação de um herói
    coletivo, que é o povo português, mas também pela presença do maravilhoso pagão, com a presença de ninfas e deuses pagãos,
    acrescido pelo facto de estarmos perante uma narrativa “in media res”, dado que a narração inicia-se quando os navegadores se
    encontram no largo oceano, ou seja, já fora do seu local de partida. Para além de tudo isto, há ainda a salientar, neste contexto, os
    aspetos formais, designadamente, o facto de ser escrito em verso.
    Por fim, podem registar-se alguns recursos expressivos que contribuem para a glorificação hiperbolizada do Povo Português
    (personagem protagonista/o herói da epopeia), designadamente: i) adjetivação (valor +); ii) hipérboles; iii) comparação (“outro valor
    mais alto se alevanta”); iv) perífrase (várias palavras para apenas uma); v) sinédoque (parte pelo todo - "Quando o Gama chegou à
    Índia"); vi) acrescido do uso frequente do modo conjuntivo associado à função apelativa da linguagem (“Cessem”; “Cale-se”; “Cesse”).

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