Sínteses de autores-secundário.2021

(José Nuno Araújo) #1
O essencial (guia prático) de Português – ensino secundário

08. “SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES” – (SÉC. XVII), PE. ANTÓNIO VIEIRA


Texto longo, com o objetivo de prender a atenção do ouvinte, persuadi-lo e levá-lo a agir.
Estrutura externa do sermão: Sermão (discurso religioso), com 6 capítulos
Estrutura interna do sermão: exórdio; exposição e confirmação; peroração.

Exórdio - capítulo I - apresentação do tema que vai ser tratado no sermão, a partir do conceito predicável (vós sois o sal da
terra) e das ideias a defender, terminando, geralmente, com uma breve oração, invocando a Virgem.
A terra está corrompida (Cap. I), porque o sal não salga (pregadores), porque a terra não se deixa salgar (ouvintes)
O que fazer quando não cumprem as suas funções?
Ao sal (pregadores) - Resposta de Cristo:


.. “lançá-lo fora como inútil” - “para que seja pisado por todos”


Aos pregadores - Resposta de S.to António:
.. mudou de púlpito - mudou de auditório

“Maria, quer dizer Domina maris : “Senhora do mar” – invocação à Virgem Maria, uma vez que é aos peixes
que vai dirigir o sermão.
O orador realça o papel do pregador e apresenta o exemplo de Santo António que decidiu pregar aos peixes, quando se viu
hostilizado pelos homens.


No fundo, trata-se da proposição (proposta) a partir da qual se vai desenvolver todo o raciocínio: (vós → pregadores; sal
→ mensagem evangélica; terra → ouvintes). Padre António Vieira apresenta o conceito predicável, “Vós sois o sal da
Terra”, e explica as razões pelas quais a terra está tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra (ouvintes).
Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem outra
ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou
antes imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os seus apetites e não os de Cristo.
Esta parte reveste-se de grande importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e benevolência dos
ouvintes.

Exposição e confirmação - capítulos II a V - A exposição situa-se desde o início do capítulo II até “Santo António abria a
sua boca contra os que não se queriam lavar”, no capítulo III. Retoma a explicitação do assunto, com uma breve explicação
da organização do discurso, onde desenvolve e enumera argumentos, contra-argumentos, seguidos de exemplos e/ou
citações.
Primeiro, embala os peixes, mostrando as suas virtudes (louva-os), e depois mostra os seus defeitos (critica-os), partindo do
geral para o particular.
Esquema (Cap. II): sal → conserva o são; sermão → louvar o bem
sal → elimina a corrupção; sermão → repreender o mal
Primeiro, contempla os louvores aos peixes de carácter geral : Quatro virtudes dos peixes: obediência, ordem,
quietação, atenção
→ ouvem e não falam; foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros que Deus criou); são melhores que
os homens (e nas provisões (...) os primeiros nomeados foram os peixes); existem em maior número (entre todos os animais
do mundo); revelam obediência (aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e
Senhor); revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca do
seu servo António; (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos
e suspensos às suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.); não se deixam domesticar (só eles entre
todos os animais se não domam nem domesticam).
Depois, contempla igualmente os louvores aos peixes, mas agora de carácter particular (Capítulo III), apenas dos
seguintes peixes elogiados: Tobias, Rémora, Torpedo e Quatro-olhos.
A confirmação começa a partir de “Ah moradores do Maranhão, enquanto eu vos pudera agora dizer neste caso!” e termina
no final do capítulo V.

- Tobias – simbologia: o poder purificador da palavra de Deus (S.to António abria a boca contra os hereges; procurava
alumiar e curar a cegueira dos homens; tentava lançar demónios fora de casa, limpando a alma dos homens). → (...) sendo
o pai do Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista e seu coração expulsa

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