Sínteses de autores-secundário.2021

(José Nuno Araújo) #1
O essencial (guia prático) de Português – ensino secundário

10. “AMOR DE PERDIÇÃO” – (SÉC. XIX), CAMILO CASTELO BRANCO


Novela passional (fruto do romantismo) : conceção do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que
domina e orienta e define a vida (e a morte) das personagens principais.

Estrutura externa e interna :

Estrutura externa Estrutura interna


Introdução (introdução; Cap. I)
“amou”



  • Referência a dados biográficos de Camilo.

  • Apresentação global do infortúnio de Simão Botelho - o degredo.


Desenvolvimento (Cap. II-XIX)
“perdeu-se”



  • Amor de Simão e Teresa: correspondido, mas proibido.

  • Amor de Mariana por Simão: não correspondido.

  • Assassínio de Baltazar Coutinho.

  • Condenação de Simão ao degredo.

  • Ida de Teresa para o Concento

  • Morte de Teresa
    Conclusão (Cap. XX; conclusão)
    “morreu amando”

  • Morte de Simão

  • Suicídio de Teresa


Personagens:
Simão Botelho – De início um homem rebelde e sombrio, mas elegante com feições da mãe. Após a visão de
Teresa, Simão transforma-se: distancia-se de Viseu; torna-se caseiro ; cumpre os seus deveres de estudante.
Quando Teresa lhe comunica o desejo do seu pai de que ela se case com o seu primo Baltasar, Simão revela-se
de novo rebelde. O seu código de honra conduzi-lo-á, em última análise, à sua tragédia. O sentimento de
dignidade é, por outro lado, inseparável da possibilidade de realização do seu amor – é assim que Simão não
acede ao pedido de Teresa, para que cumpra os dez anos de pena, em Portugal, na cadeia. É um herói romântico,
ou seja, é motivado por uma virtual conflitualidade - com os outros, com a sociedade, consigo mesmo –
diretamente condicionada pela radicalidade com que assume determinados valores românticos. Dessa forma, este
personagem retrata sentimentos de solidão, tristeza, desilusão que, quando ligados a conflitos amorosos tendem a
resultar em situações de grande tragicidade tal qual suicídios, exílios. Como herói, acresce referir o seu valor de
lealdade às suas convicções, lutando pelos seus objetivos.
Teresa de Albuquerque - Representa um tipo vulgar na galeria feminina das heroínas românticas do tempo:
amorosa angelical , vítima, indefesa, num mundo que não lhe pertence, porque organizado para servir apenas o
egoísmo arbitrário dos homens; é um ente sensível, frágil , tendencionalmente incorpóreo, votado pela fatalidade
para o deperecimento e a aniquilação. Mas essa sua personalidade ganha certa força na alternância desta
fraqueza com uma também sua própria vocação para morrer insubmissa. Heroína firme e resoluta em seu
sentimento de devoção ao amado.
Mariana - Mariana é a figura mais humana e mais complexa da obra. Mariana é vista como um símbolo de
gratidão desinteressada : é a enfermeira sempre vigilante do filho do desembargador Domingos Botelho que
salvara seu pai da forca. É um símbolo de generosidade discreta e delicada , pois dá ao hóspede bens pessoais,
cuidava do preso com abundância e limpeza, como um símbolo de amor humilde, puro : contenta-se com amar
sem ser amada, fazendo do amor um serviço gratuito, uma dádiva prestada sem quaisquer esperanças de
reciprocidade.
Baltasar Coutinho - Baltasar vive na dupla função para que o autor o criou: ser, por um lado, uma simples peça
dinâmica da intriga; por outro, surgir, pelos defeitos que encarna ( covardia, perversão pelo interesse do
sentimento amoroso, cinismo, vaidade, desdém ), como elemento contrastante de Simão, cujas qualidades e
simpatia avultam neste jogo de oposições intencionais.
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