Sínteses de autores-secundário.2021

(José Nuno Araújo) #1
O essencial (guia prático) de Português – ensino secundário

O4. “FARSA DE INÊS PEREIRA” - (SÉC. XVI), GIL VICENTE


Autor/obra: Gil Vicente / “Farsa de Inês Pereira”.
Farsa – peça teatral cómica e crítica, com assuntos profanos, ou seja, não religiosos, daí “o sentido figurado de farsa como
“embuste, mentira, ato fingido, representação para induzir a um engano”.
Estrutura externa (aspetos formais)
1 ato e várias cenas: estrutura dialogal, com turnos de fala das personagens, localização num determinado espaço e num
determinado tempo.
Estrutura interna (temática; divisão do texto em partes lógicas)
Momentos da estrutura interna:



  • Exposição - Inês fantasiosa,

  • Conflito - Inês malmaridada

  • Desenlace - Inês quite e desforrada.
    Finalidade da obra:
    Deram-lhe o seguinte ditado popular àquela época: “Mais quero um asno que me leve, que cavalo que me derrube.”


PETA (Personagens, Espaço, Tempo, Ação)
Inês Pereira; sua Mãe; Lianor Vaz; Pêro Marques; dois Judeus: Latão, Vidal; um Escudeiro comum seu Moço; um Ermitão;
Luzia e Fernando.
Caracterização e relevo (importância): Inês Pereira é considerada a personagem principal, porque toda a ação se
desenvolve tendo como objeto central o seu estado. Pero Marques e Brás da Mata são consideradas personagens
secundárias, uma vez que chegaram a casar-se com Inês Pereira. Por sua vez, as personagens a sua mãe e a alcoviteira
também têm grande relevo na obra, pois influenciam a rapariga solteira. Por fim, apresentam-se como personagens
terciárias o Ermitão, o Moço, Fernando e Luzia.


TEMPO: O tempo cronológico : essencialmente durante o dia, designadamente quando acorda e Brás da Mata a maltrata.
O tempo psicológico : primeiro Inês surge toda esperançada, depois surge desiludida e por fim livre e feliz.
O tempo histórico : séc. XVI, a época de Gil Vicente


ESPAÇO: A ação desenrola-se num só espaço, por isso a obra só tem um ato. Neste caso, é a casa da mãe da Inês
Pereira, depois doada à sua filha, onde residiu com os seus maridos, sendo que na parte final da peça a abandona levada
por Pero Marques.


Simbologia
Alcoviteira – como intermediária simboliza a prostituição e os casamentos.
Judeus casamenteiros – venalidade da religião.


Linguagem e estilo
O texto principal desenvolve-se fundamentalmente em diálogo, podendo também surgir o monólogo ou os apartes.
O texto secundário corresponde ao conjunto de didascálias (indicações cénicas fornecidas pelo dramaturgo, nas quais
se encontram informações imprescindíveis; informações dirigidas às personagens, ao encenador, aos técnicos e aos
figurinistas)
Comicidade : há a considerar três processos de cómico: de carácter, de situação e de linguagem.
Recursos expressivos :



  • Anáfora: repetição da mesma palavra no início de um verso

  • Hipérbole - exagero

  • Antítese – oposição ou contraste

    • Comparação – dois elementos comparados

    • Apóstrofe – invocação ou vocativo




Exemplos: “Dai-me essa mão, senhora” (v. 283) – uma metáfora que revela um pedido de casamento e uma apóstrofe,
pois invoca a “senhora”.
“Não sois vós, mulher, meu ouro?” – Ironia na interrogação retórica, dirigida à “mulher”, chamando-lhe
“ouro”, que por sua vez é uma apóstrofe.
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