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que precisam de saber o que têm de fazer para terem as suas
histórias de sucesso.
Que tipo de relações vão ser estabelecidas com a ESA?
Começámos com a ideia de tornar a PtS um hub da ESA. Te-
mos um forte espírito europeu. Temos em conta os interesses
portugueses, mas não contra os interesses europeus. Eu vim
da ESA; para mim, é mais fácil ver a PtS como um hub da ESA.
Os projetos implementados pela ESA são muito mais fáceis
de gerir. Mas tudo se torna ainda mais fácil se se souber que
objetivos Portugal quer alcançar. O nosso objetivo também
passa por assegurar que a nossa estratégia está integrada na-
quilo que a ESA faz.
O porto espacial da Ilha de Santa Maria enquadra-se na
estratégia da ESA?
Sim. Na ESA, temos estados-membros que têm autonomia para
o acesso ao Espaço... e tanto a Europa como os estados-mem-
bros têm necessidades a que devem dar resposta. Também é
importante ter autonomia e não ter de pedir a alguém para levar
carga para o Espaço. Temos de ser competitivos. E para fazer
isso, é necessário ter o máximo de ferramentas disponíveis.
Ter pequenos portos espaciais para pequenos lançadores faz
parte desse port-folio de ferramentas. Não se trata de uma
estratégia institucional, mas de uma estratégia comercial. Se
olharmos para a estratégia comercial e tivermos em conta o
desenvolvimento de negócios, vemos que tudo isto se encaixa
naquilo que Portugal pretende fazer. Costumo falar no conceito
de democratização do Espaço, que significa que todos (países)
têm acesso ao Espaço, mas esse acesso também implica um
acréscimo de responsabilidades. Há o acesso que diz respeito
ao lançamento de satélites para o Espaço e há ainda o acesso
aos dados que vêm Espaço, o que implica ser socialmente
sofisticado para se ter sucesso económico.
O Porto Espacial não vai poder expandir-se para lançadores
de maiores dimensões?
Por que é que o tamanho é assim tão importante (riso)! Os
lançadores de pequenas dimensões também podem ser bons! E
ter sucesso com os pequenos lançadores é também uma coisa
D
e uma assentada, Chiara Manfletti fixou três marcos
históricos: não só estreou a presidência da Portugal
Space (a agência espacial portuguesa), como se
tornou na "primeira não-portuguesa" a fazê-lo e
deu exemplo para o futuro enquanto mulher que lidera um
setor dominado por homens. Podem ser apenas os primeiros
ventos de mudança: “Continua a haver uma corrida ao Espaço,
mas agora é uma corrida de negócios...”.
Quando a convidaram para liderar a Portugal Space (PtS),
deve ter achado que era piada...
Não! É fantástico ver que há muitos países a criarem agências
espaciais e fiquei contente por ver Portugal a dar esse passo.
Diria que não foi fácil aceitar, porque estava feliz no trabalho
que tinha... mas a oportunidade de criar uma agência espacial
é um desafio formidável.
Portugal não tem grandes tradições, ou sequer lançadores...
Já temos 20 anos (de participação na indústria espacial)!
Portugal tem investido no Espaço e é membro da Agên-
cia Espacial Europeia (ESA). Não temos integradores de
sistemas – mas quando não temos algo, surge uma boa
oportunidade para passarmos a ter. Queremos que a PtS
acelere este desejo de criar um integrador de sistemas. É
algo que pode beneficiar desta tendência do Novo Espaço,
com plataformas que são mais acessíveis e exigem menos
investimento. Países como Portugal passaram a poder dizer
que querem construir satélites; e que querem criar algo que
seja mais que um brinquedo e que permita lançar serviços
úteis para a sociedade.
A lista dos membros detentores da PtS está fechada?
Temos quatro fundadores: a Fundação para a Ciência e Tecno-
logia (FCT), a Agência Nacional de Inovação (AnI), o Ministério
da Defesa e o Governo Regional dos Açores. Em novembro, o
Governo Regional da Madeira também aderiu como observa-
dor... e a ideia é que possa tornar-se membro de pleno direito
em breve. Não é um clube fechado. A perspetiva de longo
prazo passa por servir o Governo e os portugueses, e ser um
instrumento para aqueles que não têm acesso ao Espaço e
A CORRIDA ORBITAL
Entre 2021 e 2022, o Porto Espacial de Santa Maria
ficará operacional. No satélite Infante, o grau de incerteza é maior,
mas a presidente da Portugal Space recorda que o pioneirismo pode
fazer a diferença na conquista do Novo Espaço
Tex t o Hugo Séneca Fotos D.R.
CHIARA MANFLETTI