(20200700-PT) Exame Informática 301

(NONE2021) #1
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Formada em engenharia
aeronáutica e doutorada
em propulsão de foguetões,
trabalhou para a agência
espacial alemã e foi assessora
do director-geral da ESA. Tem
nacionalidades alemã e italiana.

boa. Numa perspetiva europeia, faz sentido ter vários portos
espaciais dedicados a pequenos lançadores. Claro que haverá
concorrência entre os diferentes locais. Portugal tem de ser
inteligente; tem de investir em nichos que ainda não foram
tomados pelos grandes intervenientes. E por isso temos de
ser rápidos.
Imagina a Blue Origin e a SpaceX a usarem o futuro Porto
Espacial de Santa Maria?
Respeito a SpaceX e a Blue Origin e fico feliz que vão para o
Espaço, mas gostaria muito que fosse criada uma cadeia de
valor europeia completa... e ficaria feliz de ver essa cadeia
de valor a operar em Santa Maria. Não tem de ser a SpaceX.
É possível inaugurar o Porto Espacial em 2021?
Quando as pessoas me perguntam sobre a estreia respondo
que era para ontem! (riso). Do ponto de vista do marketing,
essa data faz sentido, porque neste momento não há muitos
sítios que permitam missões de microlançadores. Para se
ser bem-sucedido, ou se é um dos pioneiros, ou chega-se
mais tarde para disponibilizar um serviço diferenciador, ou
concorre-se através da redução de custos. Ainda não po-
demos distinguir-nos pelo serviço prestado. Se quisermos
ser bem-sucedidos, temos de ser dos primeiros a entrar no
mercado. Se não conseguirmos a inauguração até ao final
de 2021, devemos garantir, pelo menos, 2022. É importante
seguir uma lógica gradual. Estamos sempre a falar em pe-
quenos satélites, mas um pequeno satélite pode ter 500 kg.
Podemos começar com 20 kg, e depois 50 kg, e depois 100
kg, ou 200 kg...
Em que ponto estamos do processo?
O processo está nas mãos do Governo Regional dos Açores.
No final do ano passado, houve consórcios industriais que
apresentaram propostas. O Governo Regional tem agora de
emitir documentos relacionados com o contrato e a conces-
são do terreno. Uma das coisas que queremos é que seja um
porto espacial aberto... Em vez de termos uma infraestrutura
que serve um único rocket, queremos ter uma infraestrutura
que possa servir vários rockets. É mais um aeroporto que um
porto espacial clássico... Além disso, queremos que seja uma
infraestrutura direcionada para o negócio. Tem de ter sucesso
comercial. Se olharmos para as ilhas (dos Açores) reparamos
que são pequenos paraísos, mas têm muitas pessoas a viver
nelas também. O Porto Espacial tem de respeitar não só a
segurança como também o ambiente.
Vai ser difícil não produzir impacto...
Chegou a hora de voltar à questão do tamanho! O Porto Espacial
não vai ser usado para lançar o Ariane 5. Vai usar uma área
pequena; e os rockets também serão pequenos. O Governo
Regional definiu requisitos exigentes para o ambiente, entre
outras coisas. Claro que cria impacto... porque se trata de algo
novo! Nos anos 1960, Santa Maria recebia aviões que vinham


dos EUA rumo à Europa. Isso desapareceu. Por isso tivemos
de evoluir para outras atividades...
Como encara o projeto Infante? Faz sentido construir um sa-
télite ou mais valia recorrer às constelações já operacionais?
Faz sentido que Portugal desenvolva conhecimento nos sistemas
de integração de tecnologias e que consiga construir satélites.
Mas essas duas coisas não têm de concorrer: é possível fazer a
integração de sistemas ou, em alternativa, pagar um serviço a
terceiros para necessidades específicas...
Qual a posição da PtS nesses dois polos?
Estamos disponíveis para essas duas opções. O programa
Portugal Space 2030, fixa como objetivo tornar o País uma
referência na análise das interações entre Espaço e oceanos.
Além do desenvolvimento de pequenos satélites, há o interesse
em transformar os dados recolhidos no Espaço em informação
(com utilidade). A PtS tem vindo a subscrever programas da
ESA para poder ganhar competências de desenvolvimento
de sistemas. Um desses programas é o InCubed. A ideia é que
Portugal consiga ganhar conhecimento, integrar um satélite,
e depois colocá-lo no Espaço, com aplicações relacionadas
com a monitorização do Atlântico, a deteção de pesca ilegal,
pirataria, unidades de aquacultura otimizadas...
Mas não há uma data para o lançamento do Infante?
Eu não tenho essa data. A PtS não constrói satélites. A PtS trans-
forma a visão do Governo num programa de atuação para as
empresas. São as empresas que têm de fazer o desenvolvimento.
Como é que a PtS se posiciona face a esta nova "Guerra
Fria" entre americanos e chineses?
Sempre que há algo associado à liderança tecnológica, há países
que querem ser os “maiores”. Continua a haver uma corrida ao
Espaço, mas agora é uma corrida de negócios... e nesse tipo de
corridas fazem-se parcerias com aqueles que têm os mesmos
interesses. Temos estado em contacto com os EUA; e os EUA
sempre estiveram interessados naquilo que fazemos. O mesmo
acontece com a China. Não vejo a acontecer uma corrida como
a da "Guerra Fria"; digamos que se trata de uma corrida tão fria
e pragmática quanto os negócios precisam de ser.
É essa vertente que pretende promover com o alargamento
da rede de incubadoras ESA BIC em Portugal?
A ideia é captar novas startups que cheguem à conclusão de
que podem criar, a partir dos dados recolhidos no Espaço,
novos negócios ou aplicações para a agricultura, por exemplo.
É isso que fazemos com as incubadoras ESA. Esta iniciativa
está em linha com a estratégia do Governo que prevê a criação
de 1000 postos de trabalho qualificados (no setor espacial).
Não estamos a falar de empregos na PtS, mas nas empresas.
Recebemos respostas de vários pontos do País. Por isso, no
futuro, vamos ver vários geeks a falarem com pessoas não
geeks... Em breve, haverá concursos de seleção para startups
que vão poder escolher os locais para onde vão.

CHIARA
MANFLETTI
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