(20200700-PT) Exame Informática 301

(NONE2021) #1
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BRAZ COSTA, DIRETOR-GERAL
DO CITEVE, LEMBRA QUE
DE 1 DE ABRIL A 28 DE MAIO,
FORAM ATRIBUÍDAS MAIS
DE 700 CERTIFICAÇÕES
DE MÁSCARAS. TECIDOS
INTELIGENTES E INCLUSÃO
NAS COLEÇÕES DE MODA
SÃO AS PRÓXIMAS EVOLUÇÕES

RAUL FANGUEIRO,
COORDENADOR DA
FIBRENAMICS, APONTA
COMO PRÓXIMO
DESÍGNIO DA INDÚSTRIA
O DESENVOLVIMENTO
DE MÁSCARAS MAIS
CONFORTÁVEIS QUE NÃO
GERAM IRRITAÇÕES CUTÂNEAS
OU FERIDAS NOS ROSTOS DOS
UTILIZADORES

M


áscaras há muitas, mas
não são todas iguais. De-
pois de um período de re-
nitência das autoridades,
registou-se uma rutura de stocks e, por
fim, surgiu a abundância – e também o
aparecimento de novas categorias que
garantem diferentes níveis de seguran-
ça, consoante os cenários de utilização.
“Há três meses, os têxteis portugueses
nada sabiam de máscaras. A retenção de
partículas era um conceito que ninguém
conhecia... mas as empresas perceberam
que podiam aproveitar esta oportunida-
de, uma vez que toda a Europa estava à
procura de máscaras”, explica Braz Cos-
ta, diretor-geral do Centro Tecnológico
das Indústrias Têxtil e do Vestuário de
Portugal (CITEVE).
Entre 1 de abril e 28 de maio, o CITEVE
já aprovou 765 modelos de máscaras que
prometem filtrar partículas e bactérias
vindas do ambiente e impedem a con-
taminações de alguém nas imediações.
“É uma curva de aprendizagem magní-
fica. Em Portugal, há um conhecimento
consolidado na área dos têxteis o que
permitiu criar coisas novas rapidamente.
Além disso, havia uma necessidade para
suprir. Enquanto outros setores se man-
tiveram no layoff, os têxteis tiveram de
sair do layoff para trabalhar”, acrescenta
o diretor-geral do CITEVE.
O próprio CITEVE teve de reagir em
contrarrelógio, com a compra de equi-
pamentos que permitem atribuir certifi-
cações a diferentes modelos de máscaras.
Braz Costa está convicto de que há muitas
mais oportunidades de negócio que se
perfilam e até admite que, em breve, as
máscaras acabem por reservar um lugar
nos escaparates da moda.
Em paralelo com a produção, houve
que rever regulação e requisitos técnicos
das certificações. Até porque a escassez
abriu caminho a situações menos desejá-
veis. “Houve uma altura em que surgiram
coisas meio loucas que, sem querer, da-
vam uma falsa sensação de segurança”,
explica Raul Fangueiro, coordenador da
plataforma Fibrenamics, que serve de
interface entre a investigação levada a
cabo na Universidade do Minho e em-
presas do setor têxtil.
Ao depararem com a escassez de
máscaras, as autoridades nacionais não
tiveram outra alternativa senão rever
as normas aplicadas às denominadas
máscaras usadas em ambiente hospitalar.
“Para fazer face à escassez, criaram-se
mais dois níveis de segurança. É uma

nível) não são produzidos em Portugal”,
refere o coordenador da Fibernamics,
para depois acrescentar: “tendo em conta
o uso generalizado, seria difícil todas as
pessoas terem máscaras de nível 1. Logo,
faz sentido criar três níveis de proteção,
porque nem todos estamos sujeitos ao
mesmo nível de risco”.
As normas EN149 e EN14683 são as
principais referências que foram sujei-
tas a adaptação para permitirem defi-
nir dois novos níveis de proteção: um
denominado nível 2 para profissionais
que contactam muita gente; e um nível
3 para cidadãos sem rotinas de risco. O
nível 1 continua a destinar-se às máscaras
produzidas para ambiente hospitalar – e
por receio ou porque é o que há à ven-
da, continua a colher a preferência da
população.
Só que a corrida às denominadas más-
caras cirúrgicas levantou outras questões


  • a começar pela inflação de preços, que
    hoje chegam aos 30 euros por cada caixa
    de 50 máscaras. “Antes da pandemia,
    uma máscara cirúrgica custava menos
    de 10 cêntimos. Não é a minha área, e
    por isso talvez não faça muito sentido
    pronunciar-me sobre os preços, mas a
    verdade é que a pandemia gerou depen-
    dência da produção destes equipamen-
    tos face à Ásia. Todo o mundo ocidental
    começou a comprar à China. A questão
    é: a Europa quer ou não manter esta de-
    pendência ou vai criar as condições para
    produzir estes equipamentos?”, refere
    Braz Costa.


MÁSCARAS PARA TODOS
Tendo em conta o número de certificados
atribuídos, não restam dúvidas de que
muitas empresas que, anteriormente,
trabalhavam no vestuário de moda pas-
saram a apostar na confeção de máscaras.
“Portugal pode tornar-se autossuficiente
na produção de máscaras dos níveis 2 e
3, mas não tenho essa certeza quanto ao
nível 1. Já há investimentos, mas não sei
se o objetivo é alcançar a autossuficiência
nas máscaras de nível 1. É algo que exige
certificação mais restritiva, que implica
a reorientação da indústria”, sublinha
Raul Fangueiro.
As máscaras de nível 1 são domina-
das por aquilo que a gíria dos Têxteis
denomina de “tecido não-tecido” – o
que pode ser descrito como uma peça de
tecido que, em vez de fibras entrelaçadas
por teares ou outro tipo de maquinaria,
coloca as fibras umas sobre as outras
por métodos de aderência (os toalhetes

situação transitória e temporária, mas
nada impede que a normalização adap-
tada se torne definitiva. É uma oportuni-
dade muito interessante para as empresas
criarem produtos e soluções. O único
nível de proteção que estava previsto pe-
las normas em vigor é muito limitativo,
uma vez que os tecidos (exigidos por esse
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