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/ PORTUGAL FAZ BEM
DESCONTAMINAÇÃO
A SECO
Muito antes da Covid-19, já a Delox
andava a trabalhar numa substância capaz
de descontaminar máscaras, ferramentas,
equipamentos eletrónicos. A grande prova de fogo
arranca este verão no Hospital das Forças Armadas
Tex t o Hugo Séneca Fotos José Carlos Carvalho
F
adhil Musa e Fernando Antunes
nem tentam disfarçar: o dispo-
sitivo mais parecido que exis-
te com a máquina criada pela
startup Delox é um... secador. Porquê?
Porque emite ar quente sem gastar muita
energia e é transportável. Só que também
há diferenças. Enquanto o secador ape-
nas faz o que o nome indica, o dispositivo
nos laboratórios que a startup ocupa na
Faculdade de Ciências da Universida-
de de Lisboa (FCUL) tem por objetivo
descontaminar, em pouco mais de 15
minutos, objetos do dia-a-dia – ou que
têm de ser usados em hospitais, restau-
rantes, missões humanitárias, farmácias,
ou lares de terceira idade. A emissão de
ar quente é importante, mas o segredo
do negócio está num pó com peróxido
de hidrogénio (vulgarmente conhecido
por água oxigenada). Passados oito anos
sobre a ideia inicial, a pandemia da Co-
vid-19 acabou por acelerar os primeiros
testes em ambiente real: entre julho e
agosto, o Hospital das Forças Armadas
vai usar uma Delox Box para desconta-
minar máscaras.
“Os sistemas que existem são muito
grandes, complexos, e usam água oxi-
genada líquida para chegar ao vapor. Em
contrapartida, nós usamos o peróxido de
hidrogénio em pó para produzir vapor.
Além de permitir criar uma solução com-
pacta e de baixo custo, pode ser muito
importante para o ambiente hospitalar”,
explica Fadhil Musa, diretor da Delox.
Fernando Antunes, Raquel Nogueira,
e Fadhil Musa na incubadora Tec
Labs, no recinto da FCUL. A startup
Delox conta ainda com João Pires da
Silva e Katarzyna Chudzik
Por enquanto, a Delox Box que se
encontra na incubadora Tec Labs, da
FCUL, é apenas um protótipo (a versão
comercial só deverá chegar em 2021). O
modo de funcionamento não exige co-
nhecimentos técnicos complexos: após
a inclusão de uma porção de uma porção
de pó num dos orifícios aspersores de ar a
60 graus, todos os objetos que se encon-
tram dentro de uma câmara de acrílico
ficam potencialmente descontaminados.
“Uma das vantagens é que a nossa so-
lução é compatível com equipamentos
eletrónicos”, explica Fadhil Musa.
A possibilidade de descontaminar com-
putadores, telemóveis até equipamentos
médicos, e ferramentas que dispõem de
circuitos eletrónicos é uma mais-valia
- mas não é a única. “A solução criada
pela Delox não deixa resíduos tóxicos ou
carcinogéneos nos objetos que se quer
descontaminar”, refere o Fadhil Musa.
O peróxido de hidrogénio, quando
inalado em grandes quantidades, pode
revelar-se fatal – mas a Delox garante
que esse cenário é improvável quando se
está a usar uma caixa de acrílico que não
chega a ocupar uma secretária de traba-
lho. “Para produzir um efeito mortal, o
peróxido de hidrogénio teria de preen-
cher uma sala inteira, de onde as pessoas
não pudessem sair”, garante Fernando