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Antunes, professor do Departamento
de Química da FCUL e co-fundador que
partilha com João Pires da Silva, que tam-
bém é professor da FCUL, a ideia original
do negócio da Delox.
TESTES MILITARES
A versão que vai ser disponibilizada ao
Hospital das Forças Armadas foi pensada
para descontaminação de 200 máscaras
(ou outros objetos). Nesta modalidade
de maior capacidade, a Delox pretende
comercializar o dispositivo que emite o
AS VIRTUDES
DA ADSORÇÃO
A Delox desenvolveu uma máquina
que emite ar quente (60 graus)
- mas boa parte do negócio
da startup portuguesa deverá
ter por base a venda de um pó,
numa lógica similar à que hoje é
aplicada à venda de tinteiros para
impressoras. O pó é composto
por sílica que adsorve o peróxido
de hidrogénio até ao momento
em que poderá ser usado para
a descontaminação. Enquanto
a absorção pode estabelecer
ligações mais fortes entre dois
elementos, a adsorção fixa ligações
mais fáceis de “quebrar” – o que
é especialmente útil para levar o
peróxido de hidrogénio a libertar-
se da sílica que o adsorveu apenas
com a passagem de ar a 60 graus.
O pó, que deverá ser comercializado
como um consumível, é colocado
num recipiente sujeito à passagem
do ar quente, que leva a expelir o
peróxido de hidrogénio em vapor
invisível através de um filtro que
retém a sílica. O dispositivo valeu
um prémio Born from Knowledge
(BfK), atribuído pela Agência
Nacional de Inovação (ANI), no
âmbito dos Prémios Empreendedor
XXI em Portugal. A solução também
despertou o interesse das Forças
Armadas devido ao potencial que
pode ter para a biodefesa. Depois
de ter garantido o apoio da Hovione
e da Caixa Capital, a startup vai
avançar para uma nova ronda de
captação e investidores.
LÓGICA
CONSUMÍVEL
Estão pensadas duas versões:
uma laboratorial para uma câmara
de um metro cúbico, que deverá
descontaminar até 200 máscaras
(ou outros objetos), e que será
comercializada com um preço
de 10 mil euros. Cada porção de
pó com peróxido de hidrogénio
deverá ter um custo de 150 euros.
A versão de menores dimensões
deverá ter um custo de 150 euros,
sendo que cada de dose de pó terá
um custo de cinco euros.
A Delox Box está preparada para fazer
descontaminações de objetos em
15 minutos. Vão ser comercializadas
duas versões de diferentes dimensões.
O pó é comprado como um consumível
ar quente, cabendo ao utilizador criar a
câmara de acrílico ou preparar o local
onde será feita a descontaminação. No
roteiro da Delox, figura ainda o desen-
volvimento de uma versão mais pequena
que inclui uma câmara acoplada e que,
eventualmente, poderá adequar-se ao
uso doméstico.
O dispositivo mais pequeno deverá
poder funcionar com bateria. “É um
dispositivo com um potência de 25 W.
O que permite usar uma bateria similar à
de um computador portátil”, acrescenta
Fadhil Musa.
Ambas as versões deverão dispor de
“selos”, que mudam de azul arroxeado
para verde marinho para sinalizar que
houve contacto com o peróxido de hi-
drogénio e que a descontaminação teve
sucesso.
Fadhil Musa garante que o peróxido de
hidrogénio é capaz de eliminar qualquer
tipo de microrganismo – seja ele bactéria,
fungo ou vírus. “Há estudos que indicam
que há microrganismos que resistem ao
peróxido de hidrogénio, através da pro-
dução de determinadas enzimas. Mas
se colocarmos a quantidade certa de
peróxido de hidrogénio não damos se-
quer tempo para que os microrganismos
desenvolvam essa resistência”, informa
o diretor da Delox.
No currículo da Delox, consta já um
primeiro teste com um protótipo numa
empresa em Erie, na Pensilvânia, EUA.
Atualmente, está a decorrer um pedido
de certificação junto da Agência Europeia
de Produtos Químicos. Em paralelo, foi
solicitado o registo de duas patentes para
o mercado americano.
O primeiro produto ainda não saiu para
o mercado – mas a Delox não perde de
vista outras necessidades futuras: “tam-
bém temos testado outras substâncias
que poderão ser usadas em substituição
do peróxido de hidrogénio”, conclui
Fadhil Musa.