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O
que têm em comum a ferrugem
amarela do trigo, a xylella da
oliveira e da amendoeira, e pi-
riculariose do arroz? Primeira resposta
possível: são doenças que afetam vegetais
usados na alimentação e que têm por
base a ação de microrganismos. Segunda
resposta possível: estas três doenças fo-
ram escolhidas pelo recém-criado cen-
tro InnovPlantProtect para se estrear na
modificação genética, a partir do uso
da famosa técnica CRISPR/CAS9. “A
nossa expectativa é de que consigamos
desenvolver provas de conceito e protó-
tipos com CRISPR/CAS9 para estas três
doenças até ao final de 2022. Nessa altura,
veremos a melhor forma de evoluir para
o desenvolvimento de um produto... seja
através do licenciamento de patente, ou
comercialização direta do produto”, ex-
plica Pedro Fevereiro, diretor do centro
InnovPlantProtect.
O InnovPlantProtect está ainda em
fase de instalação, numa parte do edifício
do Instituto Nacional de Investigação
Agrária e Veterinária (INIAV), em Elvas.
Até final de 2020, o novo centro deverá
ficar a operar com 39 profissionais – a
larga maioria dedicados à investigação.
“Vamos trabalhar com outras estraté-
gias de modificação genética de vege-
Em Elvas, o Centro
InnovPlantProtect promete
garantir um lugar entre os
pioneiros da CRISPR/CAS9
com o desenvolvimento
de espécies geneticamente
modificadas que resistem
a fungos e bactérias
que afetam oliveiras,
amendoeiras, arroz e trigo
SALVOS
PELO
GENOMA
OS GENES DO
INNOVPLANTPROTECT
O InnovPlantProtect é um
laboratório colaborativo que
junta as Universidades Nova
de Lisboa e de Évora, INIAV,
Fertiprado, subsidiárias da
Bayer e da Syngenta, além de
associações de produtores
agrícolas, como a CEBAL,
ANPOC, FNOP, ANPROMIS
ou a Casa do Arroz.
Pedro Fevereiro, diretor do
InnovPlantProtect, defende as
virtudes da edição genética, como
forma de controlo de pragas sem
o uso de matérias poluentes
tais, mas apostámos na CRISPR/CAS9
por ter grande precisão”, explica Pedro
Fevereiro.
É devido ao elevado grau de precisão
que a CRISPR/CAS9 costuma ser des-
crita metaforicamente como uma “te-
soura genética”, que facilita operações
de corta e cola de genes que se pretende
potenciar ou silenciar. Apesar de ser
apresentada frequentemente como uma
técnica, a CRISPR/CAS9 também pode
ser apresentada, de forma simplificada,
como uma combinação de segmentos
de ADN de uma célula e uma enzima
que facilita a deteção de sequências
dos genes em que se pretende atuar.
“Como já há muito trabalho e conhe-
cimento sobre as sequências genómicas
das plantas, torna-se mais fácil usar a
CRISPR-CAS9”.
Depois de uma primeira celeuma
gerada pelo uso, alegadamente bem
sucedido, da CRISPR/CAS9 em duas
gémeas chinesas, o desenvolvimento
desta metodologia de “corta e cola”
passou a centrar-se em áreas científicas
com requisitos éticos menos exigentes.
Pedro Fevereiro estima que o desenho de
uma molécula de ARN adaptada a cada
gene seja um trabalho para algumas ho-
ras, desde que se tenha o conhecimento
da sequência genética que se pretende
codificar. Sendo que a síntese que dá