16
POR ESSE
MUNDO FORA...
IA faz ‘arranjinhos’
para aumentar natalidade
Um projeto do governo do Japão
prevê a utilização de Inteligência
Artificial para ajudar a combinar
pares heterossexuais com
sucesso e aumentar, assim,
a taxa de natalidade no país.
Para alimentar o algoritmo,
os utilizadores vão ter de
responder a um conjunto
de questões sobre os seus
interesses.
Mercados locais
voluntários de carbono
O novo projeto do CEiiA arranca
em Matosinhos e pretende
desenvolver os ‘mercados
locais voluntários de carbono’,
um ecossistema que incentiva
a tomada de decisões que
reduzam as emissões de CO
e cria créditos que podem ser
comprados por empresas que
ambicionem caminhar para a
neutralidade carbónica.
Radiotelescópio
de Arecibo colapsou
A instalação de observação
espacial de Porto Rico estava
numa condição periclitante e ia ser
desmantelada, mas acabou por
cair na antena de 300 metros que
estava por baixo. O local estava
operacional há mais de 60 anos.
D
urante 8 anos, milhares de gamers sonharam com o dia em que
pudessem ligar-se a um universo tipo matrix e ser um caubói
do ciberespaço – tal como na distopia saída do génio de William
Gibson em Neuromancer, a obra obrigatória a qualquer apaixonado pelo
futuro. Essa quimera foi-lhes vendida pela CD Projekt Red, uma produtora
polaca de videojogos. Há oito anos que a Red (para abreviar) prometia o
lançamento de Cyberpunk 2077, um jogo que transportaria, alegadamente,
os jogadores a um mundo aberto futurista onde a inteligência artificial
seria a grande responsável por uma experiência de jogo nunca vista.
Cyberpunk 2077 foi adiado várias vezes... o que só aumentou o desejo
da comunidade que salivava a imaginar a complexidade do jogo – afinal,
se era adiado tantas vezes era porque seria, de certeza, excelente (ilu-
diam-se os gamers). A Red foi alimentando uma bolha especulativa ao
colocar, com muita parcimónia, vídeos no YouTube em 4K e a divulgar
uma narrativa com um fio condutor arcano no qual, esperançosos, os
jogadores maravilhavam-se com o pormenor das ruas tiradas de Blade
Runner e pintadas por dialetos tribais, a chuva permanente, as pros-
titutas e a “malta da noite”. Para manter a narrativa viva, a produtora
também foi chamando, ao longo dos anos, jornalistas especializados em
análise de jogos. Mostrou-lhes alguns minutos de gameplay, imagens
dispersas e a tal história incrível de um mundo aberto. É fácil perceber
que os ingredientes estão todos certos para atrair os fãs empedernidos
de Ficção Científica. Redes sociais, fóruns, sites... serviam de sala de
reunião onde, extasiados, gamers de todo o mundo desfilavam teorias
para os atrasos no lançamento do jogo e para aquilo que Cyberpunk iria
trazer... Por isso, não é de estranhar que, quando abriu o período de
pré-venda o jogo tivesse, num ápice, atingindo os 8 milhões de cópias
vendidas – é o jogo para PC mais vendido de sempre em pré-venda.
Diz a Red que o dinheiro que ganhou no período de pré-vendas pagou
o desenvolvimento do jogo e a campanha de lançamento. Ou seja, a
estratégia resultou... em cheio!
Qual é o problema? O jogo não está bom, parece inacabado. A versão
de PC tem bugs, mas a das consolas (confirmo) está repleta de falhas
que afetam a experiência de jogo. Todos os que correram em direção a
Cyberpunk 2077 como mosquitos em direção à luz compraram gato por
lebre. O jogo deveria ter ficado mais 1 ano a ser limado, mas a empresa
lançou-o enganando milhões de compradores. E agora? Há quem queira
o dinheiro de volta.... mas não vai receber um tostão. Afinal, o jogo está
completo e ninguém foi forçado a comprar. E, claro, a Red vai lançar
atualizações que vão melhorar muito Cyberpunk. Mas é justo milhões
terem comprado um produto que está, claramente, inacabado? Não,
não é. Quem comprou fica titular de um dos maiores engodos da his-
tória dos jogos (o maior é E.T. O extraterrestre que saiu para a Atari em
1982). E há, por certo, uma lição que, espero, muitos vão aprender: não
comprar jogos em período de pré-venda. A indústria dos vídeojogos,
uma das maiores do mundo, deveria sancionar a Red e fazer deste caso
um exemplo.
A GRANDE MENTIRA
PEDRO MIGUEL OLIVEIRA | DIRETOR DE PARCERIAS E NOVOS NEGÓCIOS
RUÍDO NA REDE