Exame Informatica - Janeiro 2021

(NONE2021) #1
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programas, com uma contribuição modesta. Outros focam-
-se em áreas específicas. Portugal, com a sua localização no
Atlântico, pode ter um papel muito importante na segurança
marítima, na logística.
Ou ter uma base de lançamento de satélites.
Exato. Os Açores são um local ideal para uma base de lança-
mento. Atualmente a ESA usa o seu porto espacial na Guiana
Francesa para grandes lançamentos, do foguete Vega, Ariane.
Mas para o lançamento desta nova gama de satélites, os micros-
satélites, vamos precisar de ter um novo local de lançamento.
Em avaliação está um sítio na Suécia e outro na Noruega. Mas
os Açores apresentam uma grande vantagem: por estarem
mais a sul [mais afastado do centro da Terra] a Terra gira mais
rapidamente e isto é uma grande vantagem para o lançamento.
Permite-nos apanhar boleia do movimento de rotação. Além
disso, por ser um território afastado da parte continental
torna-se mais seguro.
Que papel sobrará para as agências espaciais nacionais e
internacionais com o crescimento do que se chama New Spa-
ce e a entrada de privados em todos os setores do espaço?
É uma expressão engraçada, sim, esta de New Space. Imagi-
na-se logo alguém a construir um foguete na sala-de-estar.
Fiz uma ronda pelas start-ups do setor e quis saber o que en-
tendiam por New Space e nas repostas apontaram-me quatro
componentes: a comercial, sendo uma oportunidade para as
empresas; redução de custos; inovação; agilidade e flexibili-
dade. Ou seja, não interessa a dimensão. Uma agência espacial
pode ser uma New Space Agency. Esta é uma oportunidade,
quer para a ESA, quer para a Portugal Space. Não é uma ameaça.
O que distingue a ESA de outras agências espaciais?
Os europeus são diferentes, temos diversidade e isto é muito
bom. A competição faz parte, é bom, estimula a fazer melhor.
Sem competição não haveria humanos a correr cem metros
abaixo dos dez segundos. Mas a cooperação também pode fazer

A


lemão e engenheiro civil, Jan Woerner desafia os
estereótipos. Afável e de gargalhada fácil não se
inibe de falar da sua visão para o setor espacial que
passa sobretudo pelo respeito pela diversidade, o
ambiente e a cooperação internacional. Se há dez anos havia
quem troçasse da sua visão de uma vila na Lua, hoje é cada
vez mais provável que esta venha a existir. Até porque já há lá
muito material que pode ser usado para a construir, como os
rovers da missão Apolo, que por lá ficaram nas décadas de 60
e 70 do século passado.
Faz sentido para um país pequeno e pobre como Portugal



  • quando comparado com outros países que também têm
    agências espaciais nacionais, como a Alemanha ou França

  • ter a sua própria agência?
    Claro que sim. Foi uma decisão muito inteligente para Portugal
    ter criado uma agência espacial nacional. Será um importante
    motor de desenvolvimento tecnológico para o país. Quando
    participamos num projeto em colaboração com a ESA passa-
    mos a fazer parte de um projeto maior, em que se combinam
    as competências de vários participantes. Talvez para países
    com orçamentos mais pequenos seja ainda mais importante
    porque isto possibilita participarem em projetos de grande
    envergadura.
    E que estratégia devem seguir os países de recursos mais
    escassos? Escolher um dos programas e canalizar todos
    os recursos para aí ou deve participar em todos, inclusive,
    por exemplo, os voos tripulados?
    Mesmo um país pequeno pode fazer parte do programa de
    voos tripulados e enviar um astronauta para o espaço. Países
    pequenos, como a Dinamarca, têm astronautas.
    Certo. Só que a Dinamarca é pequena, mas não é pobre.
    Não se trata de uma questão de dinheiro. Cada país tem de
    decidir qual a estratégia que quer seguir no espaço, a nível
    nacional. Alguns países optam por fazer parte de todos os


ESPAÇO UNIDO


DA EUROPA


Não está muito distante o tempo em que existirá uma vila-Lua,
explorada por entidades públicas e privadas, de todas as nações,
defende o presidente cessante da ESA. Para o engenheiro alemão,
o espaço, onde não há fronteiras, é um instrumento de paz

Tex t o Sara Sá Fotos ESA

JAN WOERNER
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