59Centros de investigação de todo o
país têm vindo a publicar fotos que
evidenciam a baixa taxa de aprovação
no concurso da FCT (de máscara escura
os investigadores que ficaram de fora)João Filipe Oliveira, da
Universidade do Minho, é um
dos principais mobilizadores
do Movimento 8%média nacional. Mesmo assim, continua
a ser um “trabalhador precário”, sem
vínculo.
À PROCURA DA ORIGEM
DA DEPRESSÃO
O descontentamento e a perplexidade
face aos resultados do último concurso
- 5,3% de aprovação no concurso de
projetos e 8,2% no Concurso de Estí-
mulo ao Emprego Científico – levaram
ao ressurgimento do Movimento 8 por
cento. Um alerta que nasceu de forma
“espontânea”, relata o investigador da
Universidade do Minho João Filipe Oli-
veira. “Não é um movimento organizado,
é uma forma de partilharmos o nosso
descontentamento.”
Apesar de ter sido avaliado com uma
nota bastante alta – 9,29 em 10 e um
comentário dos membros do júri que
não apontavam ‘nenhuma fragilidade’ - João Filipe ficou de fora do concur-
so e perdeu por isso a possibilidade de
aceder ao lugar de investigador prin-
cipal. Licenciado em Farmácia e com
doutoramento em eletrofisiologia, na
Universidade de Leipzig, na Alemanha,
regressou a Portugal para aprofundar o
estudo das células da glia – uma popula-
ção de células do cérebro que se pensava
terem apenas um papel de suporte mas
que se tem vindo a perceber que podem
ser muito relevantes em diversas pato-
logias, como a epilepsia, a demência ou
a depressão. “Percebemos que a comu-
nicação entre estas células é semelhante
à que acontece entre os neurónios e que
podem ser importantes em situações de
depressão”, avança. “Os mecanismos
da depressão não são conhecidos, são
difusos, e as terapêuticas disponíveis
não têm grande eficácia”, complemen-
ta. O que o cientista do Instituto de In-
vestigação em Ciências da Vida e Saúde
pretende fazer é analisar o que se passa
a nível cerebral, em animais, recorrendo
a técnicas de eletrofisiologia in vivo,
que medem os impulsos elétricos no
cérebro e avaliam as alterações na co-
municação entre as células. Quando veio
para a Universidade do Minho, chegou
com uma bolsa Marie Curie, uma das
mais prestigiadas da Europa que mesmo
assim tem uma taxa de aprovação de
12%, portanto superior à do concurso
nacional. “Utilizamos técnicas de alto
nível para detetar os mecanismos al-
terados e tentar corrigi-los e o nosso
grupo de trabalho envolve psiquiatras,
uma vez que temos como objetivo fazer
a translação do conhecimento, passar à
aplicação”, descreve.
Para já, o grupo vai sobrevivendo à
conta do financiamento atribuído por
uma fundação. Mas a partir de novem-
bro de 2021 fica sem verba. “Não tenho
contrato e a partir desta altura não sei o
que vou fazer. E como eu, muitos outros
colegas, com artigos científicos de alto
índice de impacto”, diz o cientista que
admite mesmo mudar de vida.
Do Ministério veio para já uma respos-
ta: A 27 de novembro foi anunciado um
novo concurso de projetos, em todos os
domínios científicos, a decorrer entre 28
de janeiro e 10 de março de 2021. Quem
ficará de fora desta vez?SÃO (MUITO)
MAIS OS QUE
FICAM DE FORA
CEEC Individual (Concurso de
Estímulo ao Emprego Científico)3648
Candidaturas avaliadas300
Contratos aprovados8 ,2%
Taxa geral de aprovaçãoConcurso de Projetos IDT
em todas as áreas científicas5847
Candidaturas avaliadas312
Contratos aprovados5 ,3%
Taxa geral de aprovação