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FEITO
À MEDIDA
Os novos M1 da Apple representam um dos maiores saltos
de eficiência da história dos microprocessadores e provam
as vantagens da otimização entre hardware e software
Texto Sérgio Magno Fotos D.R.
P
oucos terão acreditado nas pro-
messas de Tim Cook quando, em
junho, anunciou que a Apple iria
começar a substituir os processadores
Intel pelos Apple Silicon. Como acreditar
que um pequeno processador, com a
mesma arquitetura base de smartpho-
nes, poderia ser mais eficiente que os
‘gigantes’ Core da Intel, que resultam
de muitos anos de desenvolvimento?
Mas agora, que primeiros Mac com M1
já chegaram ao mercado, até os mais
céticos ficaram convencidos.
RESULTADOS FALAM POR SI
Comparar ‘alhos com bugalhos’ é uma
feliz expressão popular que se pode
equivalentes da Intel. A vantagem dos
novos MacBook com M1 relativamente
aos modelos anteriores com Intel é ainda
mais evidente em utilização comum do
que os bechmarks revelam. A velocidade
com que as máquinas com M1 reagem a
operações como arranque dos programas
ou a comutação com ecrãs exteriores
é impressionante. Neste aspeto, a ex-
periência é mais similar ao que esta-
mos habituados a ver em smartphones
e tablets topo de gama do que ao que à
experiência de utilização nos PCs. E, não
menos importante, a eficiência energé-
tica é avassaladora. Nunca foi possível
fazer tanta coisa num portátil durante
tanto tempo longe da tomada elétrica.
O SEGREDO ESTÁ NO CHIP
OU NO SISTEMA OPERATIVO?
Já muito se falou da tecnologia, que
muitos apelidam de quase mágica, que
o novo sistema operativo da Apple, o
macOS Big Sure, inclui para ‘traduzir’
instruções x86 para instruções ARM.
Denominado Rosetta 2, permite que os
utilizadores dos novos Mac com M1 pos-
sam correr aplicações criadas para os
Mac com processadores Intel enquanto
não surgirem novas versões das mesmas
aplicações otimizadas para M1. Tradicio-
nalmente, estas tecnologias de conver-
sões de instruções são pouco eficientes.
E seria de esperar que emular um x86,
uma arquitetura mais complexa, num
processador ARM levaria a problemas
extra. Mas não é o que está a aconte-
cer. Na verdade, muitas aplicações para
x86 até correm mais rapidamente emu-
ladas num Mac M1 que em Mac Intel.
Estes resultados demonstram o potencial
da tecnologia do M1, que integra unida-
des de processamento de diferentes tipos.
E este é aspeto fundamental: cada vez
mais as aplicações, sobretudo de cariz
gráfico, tiram partido de unidades de
processamento que não o processador
central (CPU). Ora, o M1 integra várias
unidades, incluindo de processamento
neuronal (IA) e gráfico (GPU), além da
componente CPU. Algo que também
acontece no universo dos PC, mas ainda
não de forma tão integrada num único
chip – na análise do Ryzen 9 (pág. 32)
explicamos como a gráfica pode ser mais
importante que o processador no Premie-
re Pro, um programa de edição de vídeo.
Talvez ainda mais importante seja a oti-
mização. Um CPU x86 e o sistema opera-
tivo Windows são soluções generalistas.
O mesmo se pode dizer de chips ARM
aplicar à complicada ciência dos mi-
croprocessadores. Não é fácil tirar con-
clusões precisas sobre qual o melhor:
se, por exemplo, um chip Apple M1 ou
um Intel Core i7, porque usam arqui-
teturas diferentes (ver caixa ARM vs
x86). Seria o equivalente a comparar
uma carrinha pick-up com um citadino.
Ambos são automóveis, mas é provável
que um alentejano que viva numa quinta
tenha uma resposta bem diferente de
um lisboeta que viva num apartamento.
Independentemente das razões técnicas,
os resultados, como se costuma dizer,
‘falam por si’. E há testes que provam
que os chips Apple M1 são mais rápidos
a executar as mesmas aplicações que os