/ PORTUGAL FAZ BEM62MAYDAY, MAYDAY,
MAYDAY!
É do Centro de Competências de gestão de tráfego aéreo
da Edisoft que saem os sistemas que ajudam a tornar mais
seguras as operações dos principais aeroportos do mundo,
como os da Tailândia, Abu Dabi, Xangai e Cidade do México
Tex t o Sara Sá Fotos D.R.O
s três ecrãs colados à parede
do escritório mostram uma
pista de aviação, aeronaves
a chegar e a partir, carros de
bombeiros e um vasto terreno pintalgado
de verde tropical. Por momentos, é fácil
esquecer que estamos em Paço de Arcos,
no Centro de Competências ATM (da sigla
em inglês para Gestão de Tráfego Aéreo)
da Edisoft, e ser transportado até ao vai-
-vem do aeroporto tailandês simulado
pela plataforma TopSky Tower. Neste
sistema de monitorização e controlo dos
movimentos de aeronaves na placa dosaeroportos é possível simular todos os
cenários possíveis no dia-a-dia, o que
permite testar e treinar a sua utilização.
Vários aeroportos de grande dimen-
são, como dois em Banguecoque, que na
hora de pico chegam a ter 150 aviões no
solo, na Cidade do México, Abu Dhabi, e
quase todos os aeroportos portugueses,
já têm o sistema da Edisoft instalado, o
que já ajudou a prevenir acidentes, como
situações em que um avião se estava a
alinhar para aterrar num pista fechada.
Num caso como este, o alarme começa
a tocar e torna-se impossível ignorar o
risco (acreditem, nós ouvimos a sirene!).
“Este sistema está lá para facilitar a vida
aos controladores aéreos”, sublinha o
gestor de projeto Luís Dias. Na pista, es-
tão sensores de movimento que detetam
os objetos na placa e um sistema de mul-
tilateração – que recebe informação de
várias antenas para calcular a posição,
através da medição da diferença do tem-po de chegada do sinal – dá informação
sobre a localização das aeronaves.
Outra valência que o sistema traz é a
digitalização das fitas com os planos de
voo, que até hoje são impressas em papel.
“Numa época normal, gastam-se 500
euros por dia com a impressão de fitas,
num aeroporto como o de Lisboa. E de
cada vez que há um atraso, nem que seja
de cinco minutos, é preciso reimprimir o
plano de voo”, diz Luís Dias. Mantendo o
grafismo das tradicionais fitas em papel,
o TopSky apresenta toda a informação
em formato digital e permite a passagem
de um ecrã para o outro, ou seja, de um
controlador aéreo para o outro.O TWITTER DOS
CONTROLADORES AÉREOS
“Traumatizante!” É desta forma que o
engenheiro de telecomunicações Filipe
Pimentel recorda os sete dias passados
em Cartum, no Sudão, a instalar o siste-
ma de gestão de mensagens em contexto
aeronáutico, desenvolvido pela Edisoft.
No final da ‘comissão de serviço’, à conta
do empenho do responsável pelo desen-
volvimento de software da empresa do
grupo Thales e do proverbial ‘desenras-
canço’ português, ficou tudo a funcionar
como tem de ser. “Nós levámos todo o
equipamento e a dada altura até cabos
tive de passar”, relata, bem-disposto.
A autoridade de aviação civil sudanesa
é apenas um dos 28 clientes, em todo
o mundo, que se serve do sistema de
gestão de tráfego aéreo, em terra, TopSky
AMHS (do inglês Aeronautical Message
Handling System). Por aqui é transmitida
informação sobre eventuais acidentes
na pista, planos de voo, dados meteo-
rológicos. Áustria, Roménia, Haiti ou
Portugal, através da NAV, são alguns dos
clientes deste sistema. Nem sempre a
história da experiência de negociação
e instalação se resume a um episódio
caricato de falta de água potável num
hotel de cinco estrelas ou de um profis-
sional altamente qualificado acabar por
fazer trabalho não especializado. Por
exemplo, na Arábia Saudita, uma das
especificações da autoridade de nave-
gação local era que todas as mensagens
com origem ou destino na Katar Airways
fossem descartadas. “Qualquer avião
seria detetado, mas não figuraria nos
planos”, concretiza Filipe Pimentel, ali-
viado por não ter sido instalado o produto
da Edisoft. Há contratos que não valem
uma noite de sono tranquilo.A plataforma TopSky Tower
ajuda os controladores aéreos
a gerirem o movimento das
aeronaves no aeroportoUma das inovações do sistema
é apresentar os planos de voo,
habitualmente impressos em
papel, no formato digital