Exame Informatica - Janeiro 2021

(NONE2021) #1
64

/ TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

IA AO SERVIÇO


DO (BOM) VINHO


Nas vinhas da Sogrape, um sistema de Inteligência Artificial
permite monitorizar o nível de desenvolvimento da videira,
planta a planta. E cuidar de uma grande propriedade
como quem trata de um pequeno quintal
Tex t o Sara Sá Fotos D.R.

É


a pergunta do milhão de euros
na viticultura: qual o momento
exato para apanhar a uva? Numa
pequena vinha, um produtor experiente
consegue acompanhar a maturação da
fruta, tirar-lhe as medidas, a cor e o
cheiro e responder à questão sem gran-
des hesitações. Numa propriedade com
dezenas de hectares não há, obviamente,
qualquer possibilidade de manter esta
vigilância planta a planta – “precisaría-
mos de um batalhão de pessoas para o
fazer”, observa o enólogo, responsável
pela Investigação e Desenvolvimento
da Sogrape, António Graça. A forma
habitual de avaliar a maturação da vi-
deira passa pelo método de amostragem,

O enólogo António Graça defende
que com automatização os vinhos de
qualidade chegam a mais consumidores

são utilizadas e os dados que fornecem
complementam-se. Ou seja, não fala-
mos apenas de controlo de maturação,
mas sim, também, de todo o processo de
vindima e acompanhamento das vinhas
ao longo do ano.”
Desta forma, conseguem-se dois ní-
veis de identificação, baseados em dados
de satélite, trabalhados por sistemas de
IA: a deteção das áreas de cultivo, com
marcação dos terrenos e identificação
das culturas, e a análise planta a planta,
com avaliação do seu estado de matu-
ração. “Quem mantém a nostalgia do
método tradicional de tratar da vinha
é porque nunca trabalhou no campo
nem pisou um lagar”, atira António
Graça. “Graças à tecnologia podemos
cuidar de um terreno de 40 hectares
com uma precisão e detalhe semelhan-
te à de uma pequena área”, compara.
“Antes fazíamos análises de controle
de maturação a cada cinco ou seis hec-
tares, agora passamos a ter capacidade
de perceber a diferenciação em cada
talhão”. No ecrã, um código de cores
indica o vigor da planta, estimado a
partir da refletância da vegetação, no
comprimento de onda do vermelho e
do infravermelho. A partir deste parâ-
metro, que dá indicação sobre o nível de
maturação, torna-se possível delimitar,
com rigor, a área a vindimar. Em locais
de vindima mecânica, é inclusivamente

que tem margem para melhorar. É isto
que a Sogrape está a tentar fazer, atra-
vés da colaboração com a empresa da
Bielorrússia OneSoil, que usa imagens
de satélite e um sistema de Inteligên-
cia Artificial para analisar o terreno. No
seu portfólio a empresa já apresentava
o acompanhamento de vários tipos de
cultura, como o milho ou o trigo, mas
não da vinha. Foi precisamente António
Graça quem sugeriu à empresa a inclusão
desta produção.
Além da plataforma da OneSoil, que
permite análise do vigor das plantas,
a Sogrape recorre ainda a uma ferra-
menta da SpinWorks para controlar as
áreas da vinha. “Ambas [as ferramentas]
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