Exame Informatica - Janeiro 2021

(NONE2021) #1
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Sistemas de inteligência
artificial permitem identificar e
acompanhar a área de vinha, a um
preço bastante mais reduzido do
que a alternativa aérea, por drone

Dados das estações meteorológicas
automáticas aplicados a um modelo
matemático específico permitem obter
boas previsões a cinco dias

No projeto MED-GOLD, do Horizonte
2020, compilam-se dados climáticos
históricos e previsões de extremos
climáticos para suporte à decisão

possível programar o GPS da máquina
com a informação destes mapas.


PARCERIA COM A ESA
Neste momento as imagens vêm do
Sentinel-2, da Agência Espacial Eu-
ropeia (ESA). Mas é possível que os
satélites posteriores, da mesma série,
venham a ser utilizados para a avaliação
de outros parâmetros, como o nível de
água da planta. Para que a videira dê
uvas gordas, perfumadas e sumarentas
é preciso mantê-la num permanente
estado de stress hídrico. Ou seja, com
água suficiente para a planta se desen-
volver, mas focada na sobrevivência, o
que a leva a concentrar toda a energia
na produção do fruto. Esta avaliação
é feita manualmente com a câmara
de Sholander, que mede a força que a
planta precisa de despender para retirar
água do solo. Num projeto que junta a
Sogrape, a ESA e parceiros franceses,
prevê-se usar dados de satélite para a
deteção dos níveis de stress hídrico do
solo, de forma a garantir que se obtém a
máxima qualidade da uva com um con-
sumo de água mínimo. “O que fazemos
normalmente é enviar equipas para o
terreno, de madrugada, para fazer esta
avaliação. É um método muito rigoroso,
mas caro. A mão-de-obra na agricultura
tem-se vindo a tornar cada vez mais
escassa e não é só em Portugal, o que


reforça a necessidade de automatizar os
processos”, observa o enólogo.
Num cenário das alterações climáticas
cresce a necessidade de recorrer a bons
sistemas de análise e previsão, o que
motiva a participação da Sogrape num
projeto internacional de monitorização
do clima que há de culminar numa pla-
taforma que combina informação cli-
mática histórica com previsões sazonais
e de longo prazo. “Conhecer eventos
passados, como a ocorrência de secas,
e o seu impacto na qualidade da vinha
pode ajudar-nos a preparar para situa-
ções semelhantes no futuro e a tomar
decisões como onde plantar a vinha,
que castas escolher, irrigação, tipo de
enxerto”, avança. Em 2011 a empresa
começou a instalar estações meteoro-
lógicas nas suas vinhas, com medição
de sete parâmetros climáticos. Os dados
são atualizados a cada quinze minutos
e aplicados a um modelo matemáti-
co específico que faz previsões a cinco
dias, com uma fiabilidade superior a 75
por cento. “Isto permite-nos planear os
tratamentos às plantas em função de
haver chuva ou não”, concretiza Antó-
nio Graça. A inovação representou uma
poupança de 30 mil euros por ano. “Em
dois anos pagou-se o sistema”, observa.
Porque a arte não sobrevive sem técnica.
“Hoje produzimos vinhos com grande
qualidade, em mais quantidade e com
mais frequência. Os vinhos extraordi-
nários tornaram-se mais acessíveis.”
Mas um Barca Velha será sempre um
Barca Velha.
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