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Ruy Castro - O preço da liberdade


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ruy Castro


Rio de Janeiro - Outro dia, num debate sobre política na
TV, escutei alguém dizer: "Aqueles que não se lembram
do passado estão condenados a repeti-lo". Fiquei
encantado - há anos não ouvia essa frase do filósofo
George Santayana. Não que ela tivesse deixado de
valer. É que, pela quantidade de vezes em que foi
citada no século 20, era como se entrasse e saísse por
conta própria dos textos. Quando isso acontece, não há
frase que aguente - o conteúdo se esgota e fica a frase
pela frase. E ela já fora abandonada.


Várias outras frases clássicas da política correm o risco
de ter de pedir aposentadoria: "A história se repete
primeiro como tragédia, depois como farsa" (Karl Marx).
"O patriotismo é o último refúgio dos canalhas" (Samuel
Johnson). "Não existe almoço grátis" (popularizada por
Milton Friedman). "Tudo deve mudar para que tudo fique
na mesma" (Giuseppe Tomasi di Lampedusa).


E o que dizer dos achados dos nossos frasistas?
"Política é como nu- vem. Você olha e está de um jeito.
Olha de novo e já mudou" (Magalhães Pinto). "O que


vale não é o fato, mas aversão" (José Maria Alckmin).
"Política é a arte de engolir sapos" (Nereu Ramos).
"Política é a arte de namorar homem" (Rubem Braga).

Seja como for, essas citações ficaram sofisticadas
demais para o que está acontecendo hoje no Brasil.
Nossa realidade se brutalizou de forma a não comportar
mais análises, só constatações - e alertas. Nunca se
viu, por exemplo, uma interferência política tão no eiva e
ofensiva em todos os setores da administração. Os
canais da Justiça estão sendo meticulosamente
obstruídos para dar um verniz de legalidade à fratura
institucional em preparo. E há fanáticos e sicários se
armando e juntando munição para o caso de
resistência. Está na cara.

Diante disso ressurge, quem diria, uma frase muito
popular no passado entre os avós dos que hoje tramam
um autoassalto ao poder: "O preço da liberdade é a
eterna vigilância".

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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