Clipping Banco Central (2021-02-26)

(Antfer) #1

VERA MAGALHÃES - Nem luto nem luta


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

O Brasil atingiu a inimaginável marca dos 250 mil
mortos por Covid-19 sem que seu presidente tenha tido
a decência mínima de decretar luto oficial, de
determinar medidas enérgicas para conter uma curva
que só empina ou de se empenhar para garantir vacina
e auxílio emergencial a um país entregue à pandemia
sem perspectiva de saída.


Assim como outras marcas tenebrosas em um ano de
circulação do novo coronavírus em terras brasileiras,
essa também passou em branco pelo Palácio do
Planalto e pela Esplanada dos Ministérios. Vamos
enterrando pessoas aos milhares todos os dias, sem
que o governo federal reconheça a gravidade da crise
sem precedentes que atravessamos.


Diante de uma tragédia que nenhum de nós, crianças
ou velhos, viveu antes, Jair Bolsonaro está fazendo
planos de mandar buscar em Israel não vacinas, mas
spray nasal experimental.


Eduardo Pazuello está enviando doses escassas de
imunizantes não para o Amazonas, epicentro das
mortes, da falta de oxigênio e da nova cepa do vírus,


mas para o vizinho Amapá, de população e urgência
infinitamente menores.

O presidente não está se ocupando de exigir
providências do general que enfiou na Saúde, mas do
presidente da Petrobras. Não está empenhado em
trocar o responsável pelo fracassado Plano Nacional de
Imunização, mas sim o encarregado da publicidade
oficial.

A pressa não é para conceder auxílio emergencial a
quem precisa, depois que essa ajuda foi suprimida sem
nada para ser colocado no lugar em dezembro, mas
para subsidiar combustível para caminhoneiros que têm
o presidente da República como refém.

No Congresso, o auxílio emergencial e o acordo para a
compra de vacinas de outras empresas com que
Bolsonaro achou por bem não negociar podem esperar.
O que é para ontem é a aprovação de uma Proposta de
Emenda à Constituição ampliando ainda mais os limites
da já praticamente plena imunidade parlamentar. A
imunidade ao vírus que espere. As pessoas que se
virem.

Nesse cenário de absoluta anomia - estatal, social,
cívica - , vivemos de improvisos que têm por objetivo
mitigar o colapso no enfrentamento da pandemia.

O mais recente deles veio de novo do Supremo Tribunal
Federal, que virou uma Corte de emergências de toda
sorte. De acordo com a decisão tomada na quarta-feira,
estados e municípios poderão adquirir vacinas por conta
própria.

Trata-se de algo a ser celebrado, pois parece ser uma
possibilidade ao menos de que saiamos da letargia em
que o Plano Nacional de Imunização se encontra,
justamente porque foi sabotado pelo presidente da
República, por seus acólitos e seu general.

A chancela do STF é antes de tudo um atestado de
fracasso, um carimbo da inépcia do Brasil para lidar
Free download pdf