Clipping Banco Central (2021-02-26)

(Antfer) #1

Nas entrelinhas


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Política
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Luiz Carlos Azedo


Pazuello descobre a pólvora
Há um ano, bem no começo da pandemia da covid-19,
se discutia se era uma "gripezinha", como disse o
presidente Jair Bolsonaro, ou uma grave crise sanitária.
O então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, insistia
que era preciso adotar a política de distanciamento
social, para achatar a curva de contaminação e evitar o
colapso do Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto
se esperava uma vacina eficaz contra o novo
coronavírus. Acabou demitido por contrariar Bolsonaro.
O oncologista Nelson Teich, que o substituiu, pediu
demissão rapidinho. Bem-mandado, o general de
divisão Henrique Pazzuelo foi nomeado para o cargo.


Naquela ocasião, já se sabia que a pandemia cresceria
exponencialmente. Entretanto, incentivados por
Bolsonaro, os negacionistas embarcaram na canoa
furada da gripezinha, nem mesmo máscaras usavam, e
colocavam em dúvida a eficácia das vacinas, que,
finalmente, estão chegando, mas em quantidade menor
do que a necessária para conter a expansão da doença.


Desprezaram o conhecimento e a experiência de
sanitaristas, infectologistas e cientistas. O primeiro
escalão do Ministério da Saúde foi substituído por um
grupo de militares neófitos em saúde pública.

Bolsonaro agiu como aquele rei persa que apostou e
perdeu a partida de xadrez. Como recompensa, o seu
vizir pediu um grão de trigo no primeiro quadrado do
tabuleiro, dois no segundo, quatro no terceiro e assim
por diante, dobrando sempre as quantidades. O rei
achou a recompensa insignificante, oferecendo joias,
odaliscas, palácios, mas o vizir recusou. Só desejava os
montes de trigo. Na hora de pagar a aposta, porém, o
rei teve uma surpresa muito desagradável. O número de
grãos começou pequeno: 1, 2, 4, 8, 16, 32 (...) e foi
crescendo, 128, 256, 512, 1.024... Quando chegou à
última das 64 casas do tabuleiro, era de quase 18,5
quintilhões.

A história foi contada pelo físico norte-americano Carl
Sagan (Bilhões e bilhões: reflexões sobre vida e morte,
Companhia das Letras, 1998) para chamar a atenção
para a importância de se levar em conta os números
exponenciais na análise da escala dos mais variados
assuntos. É o caso da pandemia de coronavírus, que
pode virar uma endemia, se a política de vacinação do
governo continuar errática, para não dizer toda errada,
como está sendo realizada.

Colapso

Na quarta-feira, chegamos a 250 mil óbitos, com média
móvel recorde de 1.129 mortes por dia. Estudo da
Fiocruz referente à Semana Epidemiológica 7 de 2021
(período de 14 a 20 de fevereiro) mostra que oito dos 27
estados apresentam sinal de crescimento de casos de
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e da covid-
19 (95,4% do total de testes positivos), enquanto seis
apresentaram tendência de queda. Entretanto, todas as
regiões do país estão em risco. Ceará, Santa Catarina e
Tocantins apresentam sinal forte (probabilidade maior
que 95%) de crescimento na tendência de longo prazo
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