Clipping Banco Central (2021-02-26)

(Antfer) #1

ELIANE CANTANHÊDE - Tão diferentes, tão iguais


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

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Autor: ELIANE CANTANHÊDE


Em nome de um "nacionalismo" anacrônico e de uma
"visão social" puramente populista, vale tudo, até o PT
apoiar a clara intervenção que derrubou as ações da
Petrobrás e a credibilidade do Brasil mundo afora. O
resultado é uma curiosa situação: o presidente Jair
Bolsonaro corre para jurar que é o que não é, liberal,
privatizante e respeitador das estatais, enquanto
petistas defendem o que Bolsonaro realmente é,
corporativista, estatizante e intervencionista. Coisas do
Brasil. Coisas da polarização.


O "novo" Congresso aproveita o ensejo. Primeiro, a
Câmara pa- gou pedágio, confirmando a prisão do
deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) determinada pelo
Supremo. Depois, escancarou as porteiras, não para as
boiadas do ministro Ricardo Salles, mas para as suas
próprias boiadas. Com o enterro da Lava Jato, sem
choro da esquerda nem vela da direita, o ambiente é
bem favorável. A hora é agora! A tal PEC da imunidade
parlamentar, carimbada como PEC da impunidade,
surgiu do nada, sem aviso prévio e sem passar por
comissões e ritos antes de desabar direto no plenário.


Seu efeito mais estridente é que deputados e senadores
dificilmente poderão ser presos. Num resumo caricato,
se Sua Excelência for pego, fotografado e filmado com a
mão na botija, roubando dinheiro público, vai ter tempo
para articular e se livrar.

Um ministro do Supremo, digamos, Alexandre de
Moraes, não vai poder mais mandar prender em
flagrante um deputado, digamos, o bolsonarista Silveira,
quando ele atacar a democracia e as instituições e, de
quebra, cometer um crime comum: ameaçar dar uma
surra num ministro da alta Corte. Qualquer decisão terá
de esperar o plenário do STF e depois a Câmara.

A intenção, como admite o novo presidente da Câmara,
Arthur Lira, é evitar que a coisa chegue até onde
chegou com Daniel Silveira - que está na cadeia - e
estabelecer que só o próprio Congresso possa autorizar
cassação ou punição a parlamentares. Deixa para o
Conselho de Ética da Câmara, aquele que devidamente
cassou o mandato da deputada Flordelis, ré pelo
assassinato do próprio marido. E para o Conselho do
Senado, que diligentemente puniu o "senador da
cueca". O quê? Não foi bem assim?! Na admissibilidade
da PEC da impunidade, como na defesa da intervenção
na Petrobrás, lá estavam juntos bolsonaristas e todos os
outros "istas": emedebistas, peessedebistas, pepistas,
trabalhistas e... a presidente do PT, Glesi Hoffmann.
Todos abraçados ao Centrão para se autoblindarem e
se tornarem mais cidadãos do que o "resto" dos
cidadãos. No dia em que o Brasil chorava a marca de
250 mil mortos na pandemia, o Congresso fazia a festa
da impunidade e o Planalto, a da aglomeração sem
máscara para duas posses desimportantes.

A polarização de 2018 parece sólida como uma rocha
para 2022, mas os dois extremos já não parecem tão
opostos como pareciam em questões centrais: Lava
Jato, Sérgio Moro, Ministério Público, mídia,
independência da Petrobrás, estatização, reforma da
Previdência, reforma administrativa, populismo e até
os arranjos "de bastidores" no Congresso. Ou alguém
esqueceu que o PT estava com o pé na campanha do
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