Curso Profissional Técnico de Cozinha / Pastelaria
Poesia trovadoresca
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, cap. 11 e 148
006 - Português, outubro 2016
CAPÍTULO 11
DO ALVOROÇO QUE HOUVE NA CIDADE CUIDANDO QUE MATAVAM O MESTRE
E COMO LÁ FOI ÁLVARO PAIS E MUITAS GENTES COM ELE
O pajem do Mestre, que estava à porta, a quando lhe disseram que fosse pela vila, segundo já estava
preparado, começou a ir rijamente a galope, em cima do cavalo em que estava, dizendo a altas vozes, bradando
pela rua:
- Matam o Mestre! Matam o Mestre nos paços da rainha! Acudi ao Mestre que o matam!?
- E assim chegou a casa de Álvaro Pais, que era dali grande espaço.
As gentes que isto ouviam saíam à rua a ver que cousa era. E, começando a falar uns com os outros,
alvoroçava-se-lhes o coração, e começavam a tomar armas cada um como melhor e mais depressa
podia. Álvaro Pais, que estava prestes e armado com uma coifa na cabeça, segundo uso daquele tempo,
cavalgou logo à pressa em cima de um cavalo, apesar de que anos havia que não cavalgara, e todos os seus
aliados com ele, dizendo em brados a quaisquer que achava: - Acudamos ao Mestre, amigos, acudamos ao Mestre, que é filho de el-rei D. Pedro!
E assim bradavam ele e o pajem indo pela rua.
Soaram as vozes do arruído pela cidade, ouvindo todos bradar que matavam o Mestre. E assim como viúva
que rei não tinha, como se lhe este ficara em lugar de marido, se moveram todos com mão armada, correndo à
pressa para onde diziam que se fazia isto, para lhe darem a vida e livrá-lo de morte. Álvaro Pais não parava de ir
para lá, bradando a todos: - Acudamos ao Mestre, amigos, acudamos ao Mestre, que o matam sem porquê!
A gente começou a juntar-se a ele, e era tanta que era estranha cousa de ver. Não cabiam pelas ruas
principais, e atravessavam lugares escusos, desejando cada um ser o primeiro. E, perguntando uns aos outros
quem matava o Mestre, não faltava quem respondesse que o matava o conde João Fernandes, por mandado da
rainha.
E por vontade de Deus, todos feitos de um só coração com vontade de o vingar, quando chegaram às portas
do Paço, que tinham sido fechadas antes que chegassem, com medonhas palavras começaram a dizer: - Onde matam o Mestre? Que é do Mestre? Quem fechou estas portas?
Ali ouviam-se brados de diversas maneiras. Tais havia que certificavam que o Mestre era morto, pois as
portas estavam fechadas, dizendo que as quebrassem para entrar dentro, e veriam que era do Mestre, ou que
cousa era aquela.
Alguns bradavam por lenha e que viesse lume para porem fogo aos paços e queimarem o traidor e a aleivosa.
Outros teimavam pedindo escadas para subir acima, para verem que era do Mostre. E em tudo isto era o tumulto
tão grande, que se não entendiam uns com os outros nem determinavam cousa nenhuma. E não somente era
isto à porta dos paços, mas ainda em redor deles, por onde quer que coubessem homens e mulheres. Umas