Clipping Banco Central (2021-02-27)

(Antfer) #1

JOÃO GABRIEL DE LIMA- Um país com três desastres aéreos por dia


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: JOÃO GABRIEL DE LIMA


A tragédia brasileira na gestão da pandemia atingiu,
nesta semana, um número macabro: 250 mil mortes.
Enterramos o equivalente a três Maracanãs lotados. Tal
cifra poderia ser evitada? Há meses a ciência diz que só
há duas maneiras de controlar uma pandemia:
vacinação em massa (que, infelizmente, vai demorar) ou
isolamento social. Em Portugal, onde vivo, o auge do
coronavírus foi em meados de janeiro. O país tinha os
piores números da Europa - 300 mortes por dia e risco
de colapso da saúde pública. O governo decretou
quarentena. Na quinta-feira, foram registradas 49
mortes - a ciência funciona. Na mesma data, o Brasil
contabilizou 1.582 óbitos, o equivalente às vítimas de
três desastres aéreos num único dia.


A tragédia brasileira, no entanto, poderia ser ainda pior.
Em artigo publicado no Estadão, o economista Pedro
Nery lembrou que o México, governado por uma
esquerda negacionista, apresenta uma taxa de 1.
óbitos por covid por milhão de habitante, a maior da
América Latina. Segundo estudos citados por Nery, uma
das razões do desastre mexicano é a inexistência de


algo equivalente a um auxílio emergencial. Os
mexicanos vulneráveis foram obrigados a sair de casa
para batalhar o sustento, expondo-se ao vírus mortal.

O Executivo brasileiro também é negacionista, mas o
Congresso, com o apoio de 163 organizações da
sociedade civil - em movimento registrado nesta coluna


  • colocou de pé o auxílio emergencial. O benefício
    permitiu que vários cidadãos brasileiros se protegessem
    do vírus ficando em casa.


A proeza mostra o impacto de curto prazo de uma
política pública bem desenhada. No longo prazo, o
impacto pode ser muito maior. O mesmo México que
reagiu tão mal à pandemia foi, no passado, referência
em transferência de renda. Estudos mostram que o
programa Prospera gerou oportunidades para uma
geração inteira, livrando-a da indigência. Criadas na
mesma época, políticas brasileiras similares,
implantadas nos governos Fernando Henrique e Lula,
começam a despertar o interesse dos acadêmicos.

Os novos estudos sobre programas de transferência de
renda no Brasil miram justamente os efeitos de longo
prazo. O economista Naercio Menezes, professor do
Insper e personagem do minipodcast da semana,
defende uma reforma do Bolsa Família que privilegie
famílias com crianças de zero a seis anos. Segundo
suas contas, o uso de instrumentos já existentes - o
cadastro e o aplicativo - permitirá otimizar os recursos
do benefício. Sem rombo no orçamento público, famílias
brasileiras poderão receber até R$ 800 por criança
pequena, garantindo o desenvolvimento delas - e seu
futuro - na fase mais crítica.

Os estudos de Naercio e outros espe- cialistas já
municiam congressistas brasileiros, como a senadora
Eliziane Gama, do Cidadania. Os projetos de
transferência de renda da deputada Tabata Amaral
(PDT) e do senador Tasso Jereissati (PSDB) têm
igualmente a virtude de olhar para o futuro.

Confirma-se mais uma vez o clichê dos "dois Brasis".
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