Clipping Banco Central (2021-02-27)

(Antfer) #1

Sem piso, sem futuro


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Tabata Amaral


Nossa Constituição determina que estados e municípios
devem investir pelo menos 25% de suas receitas
correntes líquidas em educação, enquanto esse valor é
de 18% para a União.


A educação não é apenas um direito básico e universal.
Ela é também determinante para o nosso
desenvolvimento social e econômico e, portanto, deve
ser priorizada no Orçamento. Por isso, a proposta do
governo de desvincular 100% das receitas do
Orçamento público é absurda e irresponsável.


O relatório da PEC Emergencial que foi apresentado
nesta semana no Senado, entre outras coisas, atrela a
extensão do auxílio emergencial ao fim do percentual
mínimo de investimento em educação e saúde, os
chamados "pisos".


Na prática, a desvinculação de recursos da educação
representa uma redução expressiva do seu orçamento.
Significa também o fim do Fundeb, fundo que hoje é
responsável por cerca de metade do financiamento da


educação básica e permitiu que, nas últimas décadas,
dobrássemos o valor gasto por aluno no país, reduzindo
as desigualdades regionais no investimento.

Há um mito de que o Brasil investe muito na educação,
mito esse que é alimentado pelo fato de o país gastar,
como porcentagem de seu PIB, mais do que a média da
OCDE. No entanto, quando comparamos o investimento
por aluno vemos que a realidade é outra.

Em 2016, por exemplo, o Brasil investiu uma média de
US$3.8oopor aluno matriculado no ensino fundamental,
enquanto nos países da OCDE o valor foi de US$ 8.600,
de acordo com o relatório Education at a Glance 2019.
Já passou da hora de superarmos essa antiga - e falsa -
dicotomia da educação brasileira: a construção de uma
escola pública de qualidade passa tanto por um maior
investimento quanto por uma melhor gestão dos
recursos investidos.

Nos últimos dois anos, o governo federal demonstrou
diversas vezes não ter nenhuma compreensão de quão
estratégico é o investimento educacional para o país. A
combinação de motivações ideológicas com
incompetência e falta de visão fez com que em 2020,
apesar de todos os desafios trazidos pela pandemia,
tivéssemos o menor investimento em educação básica
da década, segundo um relatório do Todos pela
Educação.

É no Orçamento que vemos as prioridades de um
governo. Para 2021, as despesas primárias do
Ministério da Defesa crescerão 4,7%, enquanto as do
Ministério da Educação terão um aumento de apenas
2% - coma possibilidade de sofrer contingenciamentos.
Só deixaremos de ser o eterno "país do futuro" quando
a educação for, de fato, prioridade. É investindo em
livros, não em armas, que seremos um país justo,
desenvolvido e ético.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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