National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1
A sonda da traineira
Mário Luís identificara
um cardume de cara-
paus de várias tone-
ladas, que prometia
garantir o sustento dos
pescadores naquela
semana. No entanto, a
tripulação foi surpreen-
dida por sardinhas no
seu lugar. Descartadas
de imediato, foram pou-
padas por estarem no
período de defeso.

Nos arredores de


Lisboa, as portas


dos casebres de


uma aldeia abrem-


-se face ao som de


burros carregados


e ofegantes.


Junto deles, almocreves esvaziam cestas, enchendo
de alegria os lares por onde passam. De repente, o
eco da palavra “Acabou!” gera revolta em dezenas
de rostos. Em Oeiras, a carta de um mensageiro
destinada ao palácio pombalino enche de ansiedade
o espírito de Sebastião José de Carvalho e Melo.
À luz das velas de um castiçal, entre as linhas de um
prenúncio pesaroso, pode ler-se a informação de que
mais uma quantidade avultada de sardinha salgada
e prensada acabara de atravessar a fronteira pelas
mãos de contrabandistas com ligações a Espanha.
Provavelmente cansado de episódios como este
que, além de afectarem os cofres do país, traziam
mais fome à população, e movido por pensamentos
monopolistas, o marquês de Pombal decide fundar
a Companhia Geral das Reais Pescas do Reino do
Algarve, no dia 15 de Janeiro de 1773. Inicia-se uma
nova era na relação das comunidades litorais com
os recursos do mar e sobretudo com a sardinha.
Um conjunto especial de elementos oceanográfi-
cos faz da costa continental portuguesa uma gigante
metrópole selvagem, densamente povoada por vida
marinha. A baixa temperatura, a salinidade elevada,

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