National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1

EXPLORE (^) | ARQUEOLOGIA
FOTOGRAFIAS DE ANTÓNIO CUNHA. SILHUETAS: ANYFORMS DESIGN
O MUSEU DA LUCERNA de Castro Verde
é o fiel depositário de uma enorme
quantidade de materiais da I Idade do
Ferro (séculos V e IV a.C.) encontrados
no concelho. Todo o espólio prova que
as influências culturais dos povos que
se desenvolveram no Mediterrâneo
Oriental chegaram a este ponto do
interior ibérico.
Numa das estações arqueológicas
de Castro Verde, designada por Neves
I, foram recolhidas na década de 1980
pelo autor e por Maria Maia duas peças
em que é nítida a influência das cul-
turas do Mediterrâneo sobre as socie-
dades desta região. Trata-se de duas
larnakes (urnas cinerárias) de forma
aproximadamente paralelepipédica,
estando as peças sobrepostas.
A primeira era constituída por uma
caixa de fabrico pouco cuidado, mas
com uma tampa que evoca a pele de
boi estendida. A pele de boi era a forma
dos lingotes de bronze que circulavam
no Egeu em finais do segundo milénio
antes de Cristo como moeda e pesa-
vam cerca de 27,5 quilogramas. Já no
primeiro milénio a pele de boi torna-se
um símbolo do poder. Ligada à rainha
Dido, que tendo fugido de Tiro aportou
no Norte de África, aí entrou em nego-
ciações com os habitantes desta região
e pediu o terreno que caberia numa
pele de boi. A população autóctone
aceitou a proposta e a rainha man-
dou cortar a pele de boi numa linha
muito fina que usaria para marcar a
área ocupada pela cidade de Cartago.
Hoje, pensa-se que a pele de boi seria,
na realidade, um lingote de cobre.
A larnax encontrada sob a anterior,
tinha também uma forma paralele-
pipédica, mais cuidada, com abas
decoradas com volutas e no inte-
rior, ao centro, tinha um vaso sem
fundo manufacturado, fazendo parte
da mesma peça. A forma das caixas e
a existência de cinzas neste contexto
sugere que se tratava da sepultura dos
chefes daquele aglomerado habitacional
nas imediações de Castro Verde, que
escreveram para a posteridade uma
página memorável.
TEXTO DE MANUEL MAIA
AS LARNAKES DE NEVES I
Sob a urna, na rocha, uma
cavidade cheia de cinzas
permitiu concluir que as duas
larnakes eram urnas cinerárias.
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