National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1
OBCECADOS POR MARTE 21

Todo este fervor científico alimentou a ficção es-
peculativa, desde “A Guerra dos Mundos” de H.G.
Wells e a série “Barsoom”, de Edgar Rice Burrou-
ghs, às “Crónicas Marcianas” de Ray Bradbury.
“Na época que precedeu a nossa exploração
efectiva de Marte, antes da década de 1960, havia
muita imaginação”, resume Andy Weir, autor do
romance “O Marciano”. “Um autor de ficção cien-
tífica diria: não sei nada sobre Marte, por isso pos-
so dizer o que quiser sobre Marte.”
Em 1965, a sonda Mariner 4 da NASA passou
junto do Planeta Vermelho. Captou as primeiras
imagens de grande plano da superfície marciana
a preto e branco, transformando o rico espaço de
recreio da cultura pop numa paisagem cheia de
grão e crateras. Quando finalmente a avistámos,
a esterilidade árida do planeta foi uma tremenda


desilusão. Contudo, a ideia de vida em Marte não
demorou muito a regressar à imaginação humana.

NUM CERTO SENTIDO, o isolamento da pandemia
de COVID-19 deu-me uma ideia de como serão os
dias úteis para um cientista que estude Marte.
Costumo viajar muito, sujando os meus cadernos
de apontamentos enquanto persigo histórias em
desertos, florestas insuportavelmente quentes e
gelo marinho. Actualmente, os exploradores de
Marte passam o tempo a tentar compreender um
sítio que só ganha nitidez através de uma lente ou
no ecrã de computador. Não vão, em breve, enfiar
uma luva no seu solo alienígena ou limpar a poeira
das viseiras que lhes cobrem o rosto. Os veículos
de exploração espacial telecomandados fazem esse
trabalho por eles.

Comando
a dist ncia
Angela Magee, da
Malin Space Science
Systems, dá instruções
a uma câmara do
Curiosity, que pousou
em Marte em 2012. Por
enquanto, a superfície
de Marte é um local
que os seres humanos
só podem explorar
à distância.
Os cientistas têm de
programar sequências
de comando para que
os engenhos robóticos
possam circular
ou evitar
determinados perigos.
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