National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1
Pena de morte
Pena de morte sem aplicação
(sem execuções nos últimos 10 anos)
Aplicada em crimes excepcionais ou militares
Sem pena de morte

Sabrina tentou reanimá-lo. Passados vários minutos
sem êxito, conduziu-o rapidamente a um hospital
em Columbus, no estado do Mississippi, onde ele
foi declarado morto à chegada. Menos de 24 horas
mais tarde, era acusada de homicídio.
Walter apresentava lesões internas graves
quando morreu. Sabrina contou aos agentes da
polícia que as lesões deveriam ter sido causadas
pelos esforços de reanimação. A polícia duvidou
da história e, após várias horas de interrogatório
sem a presença de um advogado, ela assinou um
depoimento em que afi rmava ter batido na bar-
riga do bebé porque não parava de chorar. Onze
meses mais tarde, Sabrina foi considerada cul-
pada e condenada à pena de morte.
A equipa de defesa de Sabrina Butler não
apresentou quaisquer testemunhas. Um perito
médico poderia ter testemunhado que as lesões
de Walter eram compatíveis com a reanima-
ção desajeitada de uma mãe desesperada. Um
vizinho chamado como testemunha durante
um julgamento posterior poderia ter prestado
um depoimento útil sobre as tentativas feitas
por Sabrina para salvar a vida do fi lho. Em vez
disso, os advogados de defesa ofi ciosos, nomea-
dos pelo tribunal, um dos quais especializado
em lei do divórcio, não convocaram testemu-
nhas nem chamaram Sabrina a depor em defesa
do seu caso.
“Ali estava eu, uma miúda negra numa sala cheia
de adultos brancos”, recordou Sabrina Butler, hoje
Sabrina Smith. “Eu não compreendia a sequência
do julgamento. Tudo o que os meus advogados me
disseram foi que fi casse sossegada e olhasse para
o júri. Quando me apercebi de que a minha defesa
não iria chamar testemunhas que me ajudassem a
provar a minha inocência, percebi que a minha
vida tinha acabado.”

Kirk perguntou a si mesmo se essa ciência se-
ria, de alguma maneira, capaz de limpar o seu
nome. Quando perguntou se era possível recorrer
ao exame do DNA para provar que não estivera
no local do crime, foi-lhe dito que essa prova fora
inadvertidamente destruída. Não era verdade.
A prova foi mais tarde encontrada no armazém
do tribunal. Os procuradores, seguros do seu caso,
aceitaram disponibilizar os artigos.
Uma vez examinados os artigos, foi detectada
a presença de DNA viável e não pertencia a Kirk
Bloodsworth. Foi libertado e, seis meses mais
tarde, o governador de Maryland concedeu-lhe a
absolvição plena. Seria precisa quase uma déca-
da até o verdadeiro homicida ser pronunciado.
O DNA pertencia a um homem chamado Kimber-
ly Shay Ruff ner, que fora libertado da prisão duas
semanas antes do homicídio da menina. Ruff ner
confessou-se culpado do homicídio da menina
Hamilton e foi condenado a prisão perpétua.
Kirk é agora director executivo da WTI e mili-
tante contra a pena de morte. O Decreto da Pro-
tecção da Inocência, promulgado por George W.
Bush em 2004, criou o Programa Kirk Bloodswor-
th de Subsídio aos Testes de DNA Pós-Condena-
ção para ajudar a custear a realização de testes de
DNA após a condenação.
“Eu era pobre e chegara a Baltimore 30 dias antes
de ser preso”, afi rma Kirk. “Quando conto a minha
história e explico a facilidade com que um indiví-
duo pode ser injustamente condenado, isso leva a
repensar a maneira como o sistema de justiça cri-
minal funciona. Não é precisa muita imaginação
para acreditar que inocentes foram executados.”

SABRINA BUTLER descobriu que Walter, o seu fi lho
de 9 meses, parara de respirar pouco antes da meia-
-noite de 11 de Abril de 1989. Mãe solteira de 18 anos,

EXECUÇÕES


NO PLANETA
A Amnistia Internacional
registou 657 execuções
concretizadas por 20 países
em 2019. A China†, o Irão,
a Arábia Saudita, o Iraque, o
Egipto, e os EUA encabeçam
a lista, por essa ordem.

(Continua na pg. 54)


INOCENTES 49

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