National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1
versitário de 26 anos em Albuquerque. Segundo
o testemunho de uma empregada de limpeza de
um motel, o grupo violou-a e, em seguida, ela viu
o grupo matar o estudante no mesmo motel.
O problema desta história deveria ter sido ime-
diatamente constatado. Os motociclistas não se
encontravam em Albuquerque quando William
Velten, Jr., o estudante, foi assassinado. Estavam
numa festa em Los Angeles e tinham uma multa
de trânsito que o provava. Mais tarde, a empregada
de limpeza retractou-se, revertendo a sua versão.
Em Setembro de 1975, um vagabundo, Kerry
Rodney Lee, confessou o homicídio de Velten,
possivelmente por se sentir culpado ao saber que
cinco homens estavam no corredor da morte de-
vido ao seu crime. A arma utilizada para matar
Velten correspondia a uma arma roubada ao pai
da namorada de Lee. Com base nesta prova, Ron e
os seus amigos motociclistas obtiveram um novo
julgamento e o procurador decidiu não pronun-
ciá-los pelo crime. Lee foi condenado pelo homi-
cídio de Velten em Maio de 1978.
“Quando estava no corredor da morte, eu sabia
que era inocente, mas mesmo assim cheguei a
estar a nove dias da minha primeira data de exe-
cução”, afirmou Ron, hoje com 73 anos. “Eu não
tinha voz. Por isso, quando fui libertado, decidi
que passaria a vida a ser um espinho” cravado no
flanco do sistema de justiça criminal.
Ron fundou várias pequenas empresas de su-
cesso após a sua absolvição e tem apresentado
depoimentos no parlamento estadual para abo-
lir a pena de morte. Tendo recebido apenas uma
indemnização de 2.200 dólares da comarca que o
pôs no corredor da morte, tem exigido a criação
de um sistema de indemnização para outros con-
denados erradamente condenados à morte.
“Quando saem do corredor da morte, as pessoas
sentem-se inúteis”, afirmou. “Sentem que não va-
lem nada. Não têm auto-estima e, normalmente,
saem com menos de vinte cêntimos no bolso. Nós
tentamos ajudá-los a encontrar os recursos de que
precisam para sobreviver.” j

A condenação e a sentença de Sabrina foram
anuladas em Agosto de 1992, depois de o Supre-
mo Tribunal do Missíssipi decidir que o procura-
dor fizera comentários impróprios sobre o facto
de ela não ter prestado depoimento em tribunal.
Foi ordenado um novo julgamento.
O segundo julgamento, com melhores advoga-
dos, trabalhando pro bono, resultou numa absol-
vição. Um vizinho confirmou as tentativas deses-
peradas feitas por Sabrina para reanimar o filho.
Um perito médico testemunhou que as lesões da
criança poderiam ter resultado desses esforços.
Foram também apresentadas provas de que Wal-
ter tinha uma doença renal preexistente que terá
contribuído para a morte súbita. Sabrina saiu em
liberdade depois de cinco anos na prisão, a pri-
meira metade dos quais no corredor da morte.

UMA QUESTÃO que deixa perplexos os absolvidos e
o público em geral é a seguinte: existe uma fórmula
coerente para indemnizar as pessoas erradamente
condenadas, em especial as sentenciadas à morte?
Na verdade, não existe. Um pequeno número de
absolvidos recebeu milhões de euros de indemni-
zação, dependendo das leis do estado que os conde-
nou, mas muitos receberam pouco ou nada.
Poucos absolvidos do corredor da morte acom-
panham tanto a questão da indemnização como
Ron Keine, que vive na região sudeste do Michi-
gan. Ron resolveu dedicar parte da sua vida a con-
tribuir para a causa das pessoas condenadas por
erro judicial, que muitas vezes são reintegradas
na sociedade com fracas capacidades de sobrevi-
vência. Nem sempre foi tão bondoso na sua vida.
Tendo crescido em Detroit, Ron pertencia a um
bando de rufias. Antes dos 16 anos, já fora baleado
e esfaqueado. Aos 21 anos, ele e o seu melhor ami-
go decidiram atravessar o país numa carrinha.
A longa festa rodoviária corria conforme os pla-
nos quando, em 1974, ele e mais quatro motoci-
clistas foram detidos no Oklahoma e extraditados
para o Novo México, onde foram pronunciados
pelo homicídio e mutilação de um estudante uni-

Herman (hoje com 48
anos) foi condenado
em 2006 pelo roubo e
homicídio de um homem
em Fort Lauderdale, em


  1. Não havia provas
    que o ligassem ao caso.
    Mesmo assim, Lind-
    sey passou dois anos no


Herman
Lindsey
BROWARD, FLORIDA

3 ANOS NA PRISÃO,
2 NO CORREDOR DA MORTE;
ABSOLVIDO EM 2009

corredor da morte antes
de o Supremo Tribunal
da Florida anular as acu-
sações e absolvê-lo. O
tribunal invocou ausência
de provas e admoestou
os procuradores por con-
duta indevida. Herman
ainda vive na Florida,

estado que apresenta o
número mais elevado de
pessoas absolvidas do
corredor da morte do
país. Dedica-se à pesca
(aqui, com o enteado)
e aconselha jovens sobre
a maneira de evitarem
más decisões.

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