National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1

O


UMA FRONTEIRA NAS MONTANHAS 61

cordas.” Procederam então a uma última verifica-
ção para garantir que as peças móveis das armas
não tinham congelado. Em seguida, pouco antes
do pôr do Sol, com o vento a uivar atrás das suas
costas, Bilal conduziu a equipa em fila indiana,
subindo por uma cumeeira em direcção ao topo.
De repente, os rostos escuros, tisnados pelo sol,
de duas sentinelas indianas espreitaram do alto
de um muro de neve erigido num posto de obser-
vação improvisado. O major Bilal falou com elas
em urdu: “Estão rodeados por soldados do exérci-
to do Paquistão. Pousem as armas.”
Os dois indianos agacharam-se atrás do muro
de neve. O major prosseguiu: “O exército indiano
vai custar-vos a vida!” Depois, ouviu a cadência
inconfundível dos dois cliques de uma AK-47 a
preparar-se para disparar.

“Não éramos assassinos gratuitos”, conta Bilal
três décadas mais tarde, ao lembrar a história na
sua casa de Rawalpindi. “Só queríamos preservar
o nosso território. Estávamos dispostos a defen-
dê-lo a todo o custo... Era o nosso dever patrióti-
co.” Ele tem a certeza de que os indianos dispara-
ram primeiro. Bilal e os seus homens devolveram
os tiros. Um dos indianos caiu no solo.
Os paquistaneses pararam de disparar e Bilal
dirigiu-se ao outro indiano. “Vai-te embora... Não
te vamos aprisionar nem te abateremos pelas cos-
tas.” O major viu-o afastar-se lentamente, esfor-
çando-se por respirar, até desaparecer na neblina.
Poucos repararam no incidente fora do Paquis-
tão e da Índia. Contudo, a Batalha do Pico 22.158
possui uma distinção macabra: é o teatro de guer-
ra mais alto do mundo com mortos registados.
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