Brasão
abençoado
Por PEDRO MARQUES LOPES
T
entar exprimir por
palavras o amor que
sinto pelo FC Porto é
uma tarefa a que já me
abalancei várias vezes mas que
teve sempre o mesmo resultado:
um rotundo fracasso. O mesmo
podia dizer sobre o orgulho
que tenho em ser portista, em
me sentir parte de algo que me
transcende. Pouco importa,
palavras leva-as o vento, mais
importante é tentar cumprir da
melhor forma o destino de quem
tem o brasão abençoado tatuado
no coração: servi-lo. Fazer de
cada ato, de cada palavra, uma
entrega total ao nosso ideal,
dizer sempre presente quando o
nosso amado FC Porto chamar.
No que me diz respeito, sinto
sempre que não chega, que
podia fazer mais, que o meu
clube merece mais um esforço,
mais entrega, mais dedicação.
Estou certo, porém, que é assim
que pensam todos os portistas.
A razão é simples, o amor gera
ansiedade, inquietação. Nós
não choramos as derrotas
pelas tristezas que nos
trazem, choramo-las porque
o nosso amor não as merece;
comemoramos as vitórias
porque só elas lhe fazem
justiça. Nós amamos o FC
Porto sempre, não há derrota
que nos diminua a paixão,
nem vitória que a aumente.
De todas as obrigações que o
nosso amor exige há uma, entre
muitas outras, que nós no nosso
dia a dia temos de cumprir
e cultivar: a preservação da
memória, da nossa memória
comum como portistas. Sem
memória as instituições
definham, perdem as referências,
tornam-se simples organizações
que tanto podem servir para
ganhar dinheiro como para
vencer jogos de futebol. E nós
sabemos que o FC Porto é mais,
muito mais do que equipas de
futebol, de hóquei, de andebol
ou de outro desporto qualquer.
Na primeira vez que tenho a
honra de escrever nesta revista
queria lembrar o seu papel não
só de divulgação das atividades
do clube, não só de espaço de
necessário confronto de ideias
sobre o presente e o futuro da
comunidade portista, mas de
preservação e promoção da
nossa memória coletiva. Manter
a lembrança do que foi bom. Dos
atletas que marcaram épocas,
dos dirigentes que viram mais
REVISTA DRAGÕES FEVEREIRO 2019
além, dos momentos marcantes
e dos tantas e tantas vezes
incógnitos adeptos e sócios que
tudo sacrificam em prol do FC
Porto; são estes o verdadeiro sal
da nossa terra, são eles que são
a verdadeira alma do clube. E, é
preciso dizê-lo, lembrar quem nos
fez mal, quem tentou esmagar a
nossa voz, quem nos desmerece,
quem nos quer apoucar.
De algo estou certo, se não
formos nós a preservar a nossa
memória ninguém o fará. Somos
demasiado incómodos. Neste
país de invejosos, a nossa força,
o nosso empenho, a nossa
dedicação, a nossa competência
será sempre mal vista. Mas nós
somos eternos, habituem-se.
O que somos é fruto do que
fomos, e o que seremos está
a ser construído agora.
“Somos demasiado incómodos.
Neste país de invejosos, a nossa
força, o nosso empenho, a nossa
dedicação, a nossa competência
será sempre mal vista. Mas nós
somos eternos, habituem-se.”