Dragões - 202009

(PepeLegal) #1

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ANOS DE


VITÓRIAS


SEM IGUAL

1893-1906


UM SONHO QUASE


DESFEITO
A 28 de setembro de 1893, o jornal
lisboeta Diário Illustrado anunciava na
página 3: “Fundou-se no Porto um club
denominado Football Club do Porto, o
qual vem preencher a falta que havia no
norte do paiz de uma associação para
os jogadores d’aquella especialidade”. A
iniciativa partira de António Nicolau
d’Almeida, jovem comerciante de vinho do
Porto, e envolvera a fina flor da burguesia
estrangeira e estrangeirada portuense.
Entre outubro de 1893 e março de 1894,
realizaram-se vários treinos e jogos
entre os sócios, e a 2 de março de 1894 os
futuros Dragões disputaram frente ao Club
Lisbonense a Taça D. Carlos I, perante o
próprio monarca e a rainha D. Amélia. Apesar
da aparente solidez institucional do FC Porto
desde a sua origem (de que são testemunhos
o primeiro regulamento, de 1893, e a
realização de pelo menos uma assembleia-
geral), a verdade é que o clube entrou cedo
numa fase de letargia que duraria 12 anos.

Já foi há muito tempo que Heitor Campos
Monteiro escreveu (e Maria Amélia Canossa
cantou) que o passado do FC Porto é “um livro
de honras de vitórias sem igual”. É mesmo.
Em apenas 127 anos, o clube que começou
por servir para um grupo de amigos praticar
uma modalidade que era quase desconhecida
em Portugal transformou-se numa das
mais prestigiadas instituições desportivas
mundiais. Trata-se de uma história já
longa, aqui apresentada de forma breve.
TEXTO: DIOGO FARIA

1906-1940


CRESCIMENTO CONSOLIDADO
Em 1906, José Monteiro da Costa e o Grupo do Destino
relançaram o FC Porto, que cresceu de forma rápida e sustentada
durante as décadas que se seguiram. Em poucos anos, o clube
foi dotado de estatutos, instalações próprias (primeiro, o
Campo da Rainha; a partir de 1913, o da Constituição), símbolos
e elementos identitários (equipamento, emblema, hino),
revelando capacidade para suscitar o interesse de um número
significativo de sócios. E deixou de ser apenas um clube de
futebol: logo desde o arranque deste segundo fôlego, o FC
Porto promoveu a prática do ténis, do atletismo e da natação.
Enquanto o futebol português dava os primeiros passos no
sentido da institucionalização e da organização de competições
oficiais, o FC Porto afirmou-se como o maior clube da cidade e um
dos maiores do país. O Campeonato Regional do Porto, disputado
a partir de 1913, foi conquistado pelos azuis e brancos em 30 de
34 edições. O FC Porto viria ainda a vencer as primeiras edições
do Campeonato de Portugal, em 1922, e da Liga Portuguesa, em


  1. Se tomarmos em consideração estas duas provas, são
    sete os títulos nacionais conquistados entre 1922 e 1940.


1940-1978


OS ANOS DE CHUMBO
O clube não parou de crescer a partir da década
de 1940, e a prova disso é que cedo se percebeu
que o acanhado Campo da Constituição, em
funcionamento desde 1913, era pequeno demais
para corresponder à procura de tantos portistas.
Por isso, em 1952, foi inaugurado o Estádio das
Antas, construído graças à mobilização e ao
apoio altruísta de milhares de sócios e adeptos.
A nível desportivo, contudo, estes foram anos
de chumbo, pontualmente abrilhantados por
conquistas heroicas inesquecíveis. Foi assim em
1956, quando um treinador brasileiro com fama
de general, Dorival Yustrich, conduziu a equipa
de futebol à primeira dobradinha. E foi assim,
em 1959, quando Béla Guttman conseguiu
mesmo vencer o campeonato que Inocêncio
Calabote tentou entregar ao Benfica. Mas
não há como fugir: este é um tempo marcado
por dois longos jejuns de títulos nacionais
(1940-1956, 1959-1978), que não podem ser
dissociados de uma conjuntura política bem
mais favorável aos principais clubes de Lisboa.

1978-2020


O 25 DE ABRIL NO


DESPORTO PORTUGUÊS
Tudo mudou a partir de 1978, quando a
conquista do campeonato nacional pelo FC
Porto, após 19 de anos de seca, correspondeu ao
25 de abril do futebol português. Na verdade, a
grande transformação começou dois anos antes,
em 1976, quando Jorge Nuno Pinto da Costa
se tornou chefe do departamento de futebol e
fez regressar José Maria Pedroto para o cargo
de treinador principal. A partir daí nada foi
como dantes: o clube modernizou-se, passou
a estar na vanguarda do futebol e tornou-se
uma referência internacional; para além disso,
afirmou-se como uma voz cívica da região em
que se integra e como um reduto da resistência
ao centralismo que não morreu com abril.
É possível resumir os últimos 42 anos de
FC Porto numa palavra: sucesso. Os títulos
são o melhor indicador. Só no futebol, foram
duas Taças dos Campeões Europeus/Liga
dos Campeões, duas Taças Intercontinentais,
duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça
Europeia, 24 Ligas portuguesas, 13 Taças
de Portugal e 21 Supertaças. Mas o FC Porto
também venceu no hóquei em patins, no
basquetebol, no andebol, no bilhar, na
natação, no boxe, no desporto adaptado e
em modalidades que atualmente não estão
em atividade, como o atletismo e a ginástica.
Entretanto, foram inaugurados o Estádio do
Dragão, o Dragão Arena e o Museu FC Porto.
Para o FC Porto, o passado é um motivo
de orgulho, mas não é um livro fechado de
memórias distantes que não se renovam. Pelo
contrário, o que está para trás corresponde,
de certa forma, aos ombros de gigante a
que subimos e que nos permitem ver mais
longe, de que já falava Bernardo de Chartres
no longínquo século XII. Os primeiros 127
anos desta história são mesmo a melhor
garantia de que o melhor ainda está para vir.
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